domingo, 28 de outubro de 2018

O CAMINHO DO REEQUILÍBRIO



"E, dizendo isso, mostrou-lhe as mãos e os pés."Lc 24-40

O ser humano é o resultado de suas aspirações. A harmonia ou o equilíbrio da personalidade é a resposta do comando do ser, por intermédio da mente, promovendo a integração do eu com o corpo.

Muitas vezes o rompimento desse equilíbrio é divido à imprevidência do homem. Ninguém consegue ser feliz e sentir-se integrado com a vida, auto-realizar-se, sem conquistar as metas que estimulam as emoções sadias.

O desconhecimento de sua natureza espiritual e das leis que regem a vida inibe as enrgias da alma, permitindo que algozes mentais se materializem nos comportamentos abusivos e desregrados.

A demora nesses conflitos perturbadores, que rompem o equilíbrio, atrai outras mentes infelizes, que se consorciam ao homem, produzindo as chamadas obsessões.

A princípio de maneira incipiente, depois de forma mais declarada, as desarmonias passam a tornar-se patológicas. Surgem, então, os fantasmas do comportamento doentio. A timidez aprisiona o ser dentro do castelo de suas deficiências psicológicas.

A angústia, como sentimento destruidor, ameaça ruir as melhores realizações pessoais, alienando a sua vida.

Sem o posicionamento correto e coerente, o homem torna-se instrumento de outras inteligências e passa a pensar e agir maquinalmente, confundindo-se na multidão.

A ansiedade surge então como algoz que procura destruir o ser, na busca louca pela realização material, pela procura de métodos salvacionistas e promessas que jamais serão cumpridas. Esse é o modelo psicológico de muitos que se deixam enveredar pelo caminho do desequilíbrio.

Todos esses fantasmas psicológicos são máscaras de um ego  ferido e mal-resolvido,  que requer a urgência da medicação espiritual. O homem deve vigiar seu comportamento íntimo para detectar os sinais perigosos da desarmonia e erradicá-los de sua alma.

O Evangelho e a doutrina espírita, com o conhecimento das causas pretéritas dos distúrbios da alma, desempenham papel importante como terapia emergencial. Plea vivência dos princípios do Evangelho, o homem libera-se desses distúrbios avassaladores; pelo esforço de auto-educação e de modificar-se, superando as más inclinações, desenvolve a consciência de que a gênese de sua infelicidade não é externa, mas interna. Assim, opta pela saúde integral.

É hora de retomar a caminhada e reequilibrar-se, procurando ser feliz.

Robson Pinheiro - pelo espírito de Alex Zarthu - Livro Serenidade - cap. 29

terça-feira, 23 de outubro de 2018

LIMITES À PROTEÇÃO ESPIRITUAL

A proteção que recebemos dos Espíritos benfeitores tem limites e condições que não devemos ignorar, pois que não é ilimitada ou arbitrária.

Conhecendo a paciência, a bondade, a boa vontade e a tolerância deles pelas nossas dificuldades e inferioridades morais, habituamos-nos a pedir sempre, na esperança de sermos atendidos, sem considerar que eles somente atendem quando podem ou quando devem; quando nos colocamos em condições de merecer o atendimento e, ainda, quando este não venha produzir resultados ou  consequências contraproducentes, prejudicando em vez de beneficiar.

Nos casos de resgates cármicos, por exemplo, tratando-se de benefícios de momento que resultará em prejuízo futuro; ou quando beneficia a nós, mas prejudica a outras pessoas; ou impeça ou dificulte a realização de uma experiência da qual necessitamos para nosso progresso evolutivo como seja, por exemplo, um sofrimento físico ou moral, e muitas outras modalidades de fácil e pronta compreensão; nestes casos eles não atendem como gostaríamos que o fizessem e se limitam a uma pequena ajuda ou a uma inspiração da qual possamos lançar mão por conta própria.

Outras modalidades não-atendidas; soluções de problemas materiais que a nós próprios compete resolver; problemas banais e fúteis ligados à vida comum, da mesma forma pertencentes à nossa esfera de ação e não da deles.

Para todas as dificuldades de negócios, promoções sociais, doenças e crises que nos beneficiam no momento, mas que geram consequências infelizes no futuro, tudo permanece sem solução radical, porque os Espíritos não se deixam envolver nas suas consequências, concorrendo para que sucedam.

Outra coisa a considerar: há atendimentos que podem ser feitos por espíritos familiares que penetram mais em detalhes e intimidades aos quais não descem os Espíritos de maior responsabilidade, como só protetores e guias.

E, finalmente, se tudo o que costumamos pedir fosse considerado pelos benfeitores espirituais, seu tempo seria pouco para atendê-lo, em prejuízo de suas próprias e meritórias ocupações, nos planos de trabalho que lhes são próprios.

O mesmo, todavia, não ocorre com os Espíritos dedicados ao Mal, para os quais todos os males são bons, pois que justamente se esforçam por provacá-los, como também se aplica aos ignorantes das verdades espirituais que, por ignorá-las, tornam-se irresponsáveis.

**

O que mais se aproveita nesta vida não é o que ela oferece de bem-estar, conforto e prazeres, que alimentam os sentidos, mas os sofrimentos, que apuram os sentimento e engrandecem os Espírito.

Edgard Armond

 Livro O Livre Arbítrio - cap. Libertação Espiritual

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

AYAHUASCA? - ESTADO ALTERADO DA CONSCIÊNCIA? LOUCURA? OBSESSÃO?

Parentes e o advogado de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, suspeito de ter matado o cartunista Glauco e o filho Raoni, afirmam que o homicida fazia tratamento psicológico, psiquiátrico e antidrogas, e que seu quadro de esquizogrenia teria agravado após ter tido contato com a igreja do santo Daime. Há dois anos, Carlos Eduardo começou a frequentar a seita. E isso coincide com o tempo em que seu estado de saúde piorou. Alguns afirmaram que não se deveria permitir que o jovem ingerisse a bebida enteógena. Para alguns estudiosos, ingerir bebida enteógena (1) sacramental, conhecida como chá de Ayahuasca (santo Daime), pode agravar ou gerar um estado psicótico ou problemas psicológicos.
 
O chá de Ayahuasca é consumido por comunidades indígenas da Amazônia há, pelo menos, 300 anos e para alguns não chega a ser um alucinógeno, porém, provoca um estado alterado de consciência e, por isso, não é combatido nem condenado pelas autoridades.  Seguidores dessas seitas afirmam que o uso do Daime nos cultos não deve ser encarado como uma droga, mas, sim, como um elemento “religioso” importante. Porém, sabemos que muitas substâncias “inofensivas”, além de serem tóxicas, também, são viciativas, ou seja, causam dependência, que pode ser física, psicológica e, por via de extensão, “espiritual”. Para tais praticantes, beber o chá não traz problemas à saúde física e mental, se for administrado corretamente. E se não for administrado corretamente? Estamos convencidos de que essa relação é emblemática.
 
Quem ingere chá de Ayahuasca tem alteração de consciência. Pode ocorrer certo descontrole, dor e perturbação evidentes; sintomas que são percebidos, inclusive, em nível de sensações perispirituais. Se o objetivo (o tal caráter “religioso”) for manter contato com o “mundo espiritual”, é importante alertar que, para se obter um intercâmbio com o mundo dos espíritos, é, absolutamente, dispensável a ingestão de quaisquer substâncias modificadoras da consciência. Portanto, é, totalmente, desnecessária a utilização do chá do santo Daime para esse fim; nem mesmo pode-se dizer que facilite o transe mediúnico; muito pelo contrário, pode ser, inclusive, prejudicial, dependendo do caso. O transe mediúnico é favorecido pela educação dos sentimentos e não por meios artificiais, pois é um fenômeno, absolutamente, natural.
 
Há alguns anos, pesquisadores da USP, de Ribeirão Preto, tentam conhecer melhor os efeitos do chá usado no Santo Daime e como ele atua no cérebro. Após a ingestão do chá, a substância vai para o estômago, entra na corrente sanguínea e segue para o cérebro, onde se espalha. O lado mais ativado é o hemisfério direito, que controla as emoções, como: satisfação, insatisfação, equilíbrio, desequilíbrio e euforia. Os estudos mostram que o chá leva, em média, meia hora para fazer efeito. Em uma hora, as pessoas começam a apresentar alterações de comportamento: primeiro, um estado de relaxamento; depois, muita euforia e, logo em seguida, alteração de percepções. É quando começam as visões distorcidas do cérebro.
 
A Doutrina Espírita esclarece que “os órgãos têm uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades [espirituais]; porém, não as produzem; eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.” (2) O Espírito age sobre a matéria e a matéria reage sobre o Espírito numa certa medida, e o Espírito pode se encontrar, momentaneamente, impressionado pela alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe suas impressões materiais”. (3) Cada caso é um caso, mas, sabe-se que certas substâncias, que alteram a consciência, trazem  conseqüências  para o corpo físico, para o perispírito e para a mente. Para o corpo físico, são inúmeros os malefícios, desde a dependência física e sintomas que podem levar a quadros de intoxicação aguda, até a morte (há caso registrado em Goiás). Para o perispírito, a consequência é a impregnação energética-mórbida nesse corpo. E pior, o psicossoma, que é o modelo organizador biológico, leva, com ele, toda a lesão, inclusive, para outra encarnação.
 
“A loucura tem, como causa principal, uma predisposição orgânica do cérebro, que o torna, mais ou menos, acessível a algumas impressões. Se houver predisposição para a loucura, ela assume um caráter de preocupação principal, transformando-se em idéia fixa, podendo tanto ser a dos Espíritos, em quem com eles se ocupou, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade ou a de um sistema político-social.” (4) No trágico caso “Cadu/Glauco/Raoni”, tudo nos leva a crer que o homicida é um esquizofrênico. Sua doença mental apresenta um conjunto de sintomas bastante diversificado e complexo, sendo, por vezes, de difícil compreensão. Essa psicopatologia pode surgir e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões. Hoje, é encarada, não como uma doença única, mas, como um grupo de enfermidades, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos.  Geralmente, o diagnóstico tem mostrado níveis de confiabilidade, relativamente, baixos ou inconsistentes.
 
Lembrando, aqui, que a esquizofrenia não é a dupla pessoalidade, pois é muito mais ampla que isso, e não há motivos de incluir, nela, os Transtornos de Personalidade Múltipla. É uma doença gravíssima que atinge, aproximadamente, 60 milhões de pessoas do planeta (1% da população mundial), sendo distribuída, de forma igual, pelos dois sexos. A sua diagnose tem sido criticada como desprovida de validade científica ou confiabilidade, e, em geral, a validade dos diagnósticos psiquiátricos tem sido objeto de críticas. Os sintomas podem ser confundidos com "crises existenciais", "revoltas contra o sistema", "alienação egoísta", uso de drogas, etc.
 
O delírio de identidade (achar que é outra pessoa - o Carlos Eduardo acreditava ser “Jesus”) é a marca típica de um esquizofrênico. Foi, durante muitos anos, sinônimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia significava internação em hospitais psiquiátricos (manicômios) ou asilos, como destino "certo", onde os pacientes ficavam durante vários anos. A Organização Mundial de Saúde editou critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. As causas do processo patogênico são um mosaico: a única coisa evidente é a constituição pluricausal da doença. Isso inclui mudanças na química cerebral [a atividade dopaminérgica é muito elevada nos indivíduos esquizofrênicos], fatores genéticos e, mesmo, alterações estruturais.
 
É importante frisar que a Esquizofrenia tem cura. Até bem pouco tempo, pensava-se que era incurável e que se convertia, obrigatoriamente, em uma doença crônica e para toda a vida. Atualmente, entretanto, sabe-se que uma porcentagem de pessoas que sofre desse transtorno pode recuperar-se por completo e levar uma vida normal, como qualquer outra.
 
Não podemos desconsiderar, ante o fato (“Cadu/Glauco/Raoni”) narrado no texto, o processo obsessivo, consoante esclarecem os ditames doutrinários. André Luiz, Espírito, comenta que “muitos dos nossos irmãos desencarnados, ainda presos a sentimentos de ódio e ira, cercam suas vítimas encarnadas, formando perturbações que podemos classificar como "infecções fluídicas" e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura”. (5)
 
Jorge hessen
 
http://jorgehessen.net

Fontes:
(1)     estado xamânico ou de êxtase induzida pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência. É um neologismo que vem do inglês: entheogen ou entheogenic proposto por estudiosos desde 1973.
(2)     Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questão 372
(3)     Idem questão 375
(4)     Idem – Introdução , item 15, A Loucura e o Espiritismo
(5)     Xavier, Francisco Cândido. Evolução Em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000
 
Extraído: https://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/2010/03/ayahuasca-estado-alterado-da.html
 

TORMENTOSAS ANSIEDADES

A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra a intersecção entre o físico e psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos, como taquicardia (batedeira), sudorese, tremores, tensão muscular, aumento das secreções, aumento da motilidade intestinal, cefaleia (dor de cabeça). Quando recorrente e intensa, também é chamada de síndrome do pânico (crise ansiosa aguda). Toda essa excitação acontece decorrente de uma descarga de um neurotransmissor chamado noradrenalina, que é produzido nas suprarrenais, lócus cerúleos e núcleo amigdaloide. [1]

A ansiedade, quando exorbita, torna-se causa de muitas enfermidades espirituais e decisões impulsivas, requerendo muitas vezes séculos para a devida reparação, sim, séculos! Jesus convidou-nos a vencer a preocupação exagerada, ou seja, a ansiedade doentia. Pronuncia o Mestre: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”. [2] A pessoa ansiosa, no desejo de acelerar o que imagina ser formidável o que há de advir, conquanto na maioria das vezes seja apenas simples capricho, atrai também dores e desgostos sobre si mesma.

As ansiedades crônicas desenham itinerários íngremes e jamais edificam algo de útil na vida de alguém. De tal modo que Emmanuel adverte: “se o homem nascesse para andar ansioso, seria dizer que veio ao mundo, não na categoria de trabalhador em tarefa santificante, mas por desesperado sem remissão.” [3] Uma criatura que vive entregue ao pessimismo e aos maus pensamentos tem em volta de si uma atmosfera espiritual escura, da qual aproximam-se Espíritos doentios. A angústia, a tristeza e a desesperança aparecem, formando um quadro físico-psíquico deprimente, que pode ser modificado sob a orientação dos ensinos morais de Jesus. [4]

Ademais, a conduta mental e espiritual de alguém, quando cultiva os sentimentos da ansiedade, impregna o organismo físico e o SNC (sistema nervoso central) com freqüências vibratórias infectadas que bloqueiam áreas por onde se espalha a energia vital, abrindo campo para a instalação dos múltiplos estados patológicos, em face da proliferação de agentes deletérios (microorganismos de origens psíquicas) degenerativos que se instalam. Por isso, a disciplina mental e emocional surge como sustentáculo do edifício das lutas rotineiras sob o influxo da resignação indispensável diante dos embates vitais ao nosso crescimento espiritual.

Quando experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível ou de íntima satisfação, sem que lhe conheçamos a causa, não podemos simplesmente atribuí-la unicamente a uma disposição física, pois “é quase sempre efeito da comunicação em que inconscientemente entramos com os Espíritos, ou da que com eles tivemos durante o sono.” [5] Nesse caso, o processo terapêutico advém da força espiritual quando canalizada de maneira correta sobre os alicerces da educação do pensamento e da disciplina salutar dos hábitos. É um embate sem tréguas, porém o esforço para levá-lo a termo construirá bases morais sólidas naquele que se predispõe a realizá-lo.

A ansiedade pertinaz como vimos pode ser um distúrbio associado à ocorrência da alteração da noradrenalina. Quando sua produção ou forma de produção se altera podendo ocasionar a ansiedade, entre outras patologias gravíssimas, torna-se uma porta escancarada. O uso dos fármacos pode estabelecer a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto cuida simplesmente do efeito, pois os medicamentos não curam a ansiedade mórbida em suas intrínsecas causas; apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuronais, melhorando o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central). Se os médicos são malsucedidos tratando da maior parte das moléstias, é que tratam dhttp://aluznamente.com.br/tormentosas-ansiedades/o corpo, sem tratarem da alma. Isso porque com Jesus os reflexos do passado serão apenas estímulos para nos entregarmos à lida renovadora e profícua, em prol das nossas existências porvindouras.

Sim, Jesus nos enviou como legado um dos mais poderosos medicamentos contra o desassossego mental-emocional: a Codificação espírita, cujos preceitos trazem à memória humana a certeza de que, apesar dos açoites aparentemente destruidores do destino, o homem precisa conservar-se de pé, denodadamente, marchando firme ao encontro dos supremos objetivos da vida, enfrentando serenamente os obstáculos como um instrumental necessário que Deus envia às suas criaturas.

Jorge Hessen


Referências bibliográficas:
[1]           Disponível em http://www.ansiedade.com.br/transtornos/ansiedade/ acesso em 29/03/2016
[2]           Mt. 6:34;
[3]           Xavier Francisco Cândido.  Pão Nosso ditado pelo Espirito Emmanuel , cap. 8, RJ: Ed. FEB, 1999
[4]           Kardec, Allan. Revista Espírita de maio de 1867, RJ: Ed FEB, 2000
[5]           Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 471, RJ: Ed. FEB, 1972

Fonte  http://aluznamente.com.br/tormentosas-ansiedades/
Luz na Mente - Revista on-line - Artigos Espíritas

“Alzheimer” – delongado e gradual processo de desencarnação

Antigamente a doença de Alzheimer era vulgarmente conhecida como “caduquice” e tratada como um estado de demência progressiva. Caracterizada pela perda contínua das aptidões do indivíduo, como extermínio da memória, dificuldade na linguagem e no pensamento, ela afeta progressivamente as funções corticais do indivíduo, ocorrendo atrofia do cérebro e, por isso mesmo, as funções cognitivas e motoras são deterioradas irreversivelmente.

Embora ainda não tenha cura, o uso de medicamentos como Rivastigmina, Galantamina ou Donepezila, junto com terapia ocupacional (estímulos), podem auxiliar no controle dos sintomas e retardar a sua progressão, melhorando a qualidade de vida do paciente.

A “Alzheimer” é mais comum em idosos. No estágio inicial (leve) podem surgir sintomas como: dificuldade para lembrar os acontecimentos mais recentes (a lembrança de situações antigas permanece normal), dificuldade para achar o caminho de casa, não saber o dia da semana, repetir as mesmas perguntas. Na fase moderada, a pessoa apresenta incapacidade de fazer a higiene pessoal, anda sujo, tem dificuldade para ler e escrever, alterações do sono, troca do dia pela noite.

Na etapa avançada o doente não consegue memorizar nenhuma informação atual e nem antiga, não reconhece os familiares, os amigos e locais conhecidos, nem as coisas do ambiente (agnosia), perdem a coordenação para os mais simples movimentos úteis, como vestir uma roupa (apraxia).


Allan Kardec não fez referência à enfermidade, todavia cremos que o Espírito do enfermo permanece em estado parcial de “desdobramento”, pela impossibilidade de utilizar-se do cérebro que está em definhamento. São pessoas comprometidas com graves crimes morais de existências passadas. Certamente a rigidez de caráter (intolerância), a culpa, os processos obsessivos de subjugação, a depressão, o ódio e a mágoa realimentados a longo prazo podem ser matrizes admissíveis para a ocorrência do mal de Alzheimer.

Naturalmente, o empenho da família em moléstias desse tipo é de elevada importância, tanto em relação à melhoria da qualidade de vida do paciente quanto do ponto de vista das demandas espirituais, pois seguramente o grupo familiar está coligado às “contas do destino criadas pelo mesmo”, por isso o imperativo da reparação.

O tratamento espiritual é de essencial importância, inclusive para a família, pois os parentes sofrem muito com o gradual alheamento do ser querido, que passa por um processo lento, espesso, dolorido de perda de intercâmbio cognitivo com os familiares e amigos. É como um delongado e gradual “processo de desencarnação”.

As presumíveis causas espirituais, como processos obsessivos e atitudes de intransigência moral, entre outras conforme mencionamos acima, recomendam a necessidade de ininterrupta diligência de esclarecimento espiritual, com leitura diária de páginas evangélico-doutrinárias e frequência, se possível semanal, à casa espírita para tratamento com passes e águas fluidificadas.

Nessas penosas conjunturas os familiares e ou cuidadores têm a chance de desenvolver suas potencialidades espirituais como a resignação, a tolerância, a aceitação, a vigilância irrestrita ao enfermo, a renúncia, a submissão, o amor, que inequivocamente são tesouros morais adquiridos pelos que se dedicarem aos portadores da doença de Alzheimer.

Jorge Hessen


A Luz na Mente - revista on-line de Artigos Espíritas
fonte: http://aluznamente.com.br/alzheimer-delongado-e-gradual-processo-de-desencarnacao/

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

AÇÃO E REAÇÃO -Caminhos do Espirito - Edgard Armond

Depois que se une à matéria, o Espírito é considerado simples e ignorante, mas, desde esse momento, começa imediatamente a modificar-se sofrendo as influências ambientes.

Forças invisíveis, tanto do plano físico como do etéreo, começam a atuar sobre ele, perturbando-o.

Sentimentos ainda desconhecidos nascem em seu coração e aí se radicam, influindo poderosamente sobre ele. Ideias vindas, não se sabe de onde, penetram sua  mente dando-lhe, cada vez mais vastos horizontes de pensamentos a respeito de si mesmo e de tudo que o rodeia.

Os instintos inferiores da materialidade, as atrações do mundo da forma, o pavor do desconhecido, a incerteza do seu destino, a ignorância de sua origem,e, sobretudo, sua fragilidade, todo esse conjunto desorientador de circunstâncias começa a atuar sobre ele, impelindo-o ora para aqui, ora para ali, nesta ou naquela direção, desordenadamente, como um trapo que o vento sacode para onde quer.

Mas, todas estas forças e circunstâncias, vindas de fora e de dentro, determinam cada uma reação diferente, repercutem nele de forma diversas, levando-o para esta  ou aquela direção. Esse fenômeno é o que se conhece com o nome de livre-arbítrio, isto é, a possibilidade que tem o Espírito criado de optar por isto ou por aquilo, resolver duma ou doutra maneira, seguir para esta ou aquela direção.

Por esse livre-arbítrio, decorrente desse conjunto de reações, é que o Espírito estabelece e forja o seu destino.

A essa trama de ações e reações, que é a base fundamental da lei inexorável de justiça que os orientalistas denominaram carma, ninguém pode escapar, justamente porque ela é que dá campo à evolução do Espírito.

Realmente, se este permanecesse imóvel, inativo,  e não reagisse de forma alguma 1a solicitações ambientes, ficaria à margem da vida e nada aconteceria para ele. Nenhum progresso obteria e seria uma força negativa e estéril, coisa absolutamente impossível de existir na criação, que é dinamismo e movimento permanente e eterno.

*

Chegados a este ponto, podemos agora parar um pouco e considerar que já possuímos duas opiniões respeitáveis sobre a criação do Espirito, a saber; a concepção filosófica oriental, que vem da noite dos tempos e que diz:

- Tudo está contido na mente do Todo.

O Universo é mental.

A única realidade é Deus e tudo o mais não passa de uma enorme e perene ilusão.

Por esta concepção multissecular e que tem centenas de milhões de adeptos, o Espírito é uma criação mental de Deus, o que também sucede com toda a Criação.

Vivemos e nos agitamos na mente de Deus, assim como um personagem de romance foi criada e vive na mente do romancista e na mente dos leitores, nem por osso deixando de ser menos real.

Outra, a Terceira Revelação, o Espiritismo, que diz que os Espíritos são princípios inteligentes universal individualizado, criados por Deus para evoluir e voltar a Deus.(O livro dos Espíritos questão 23).

"Há um transformismo incessante e uma progressiva suscetibilidade de aperfeiçoamento, em todas as coisas, o que demonstra que há uma criação progressiva."

Tudo o que existe provém de um princípio que atua sempre do interior para o exterior e que se encontra ocultos no mistério do Ser.

Tudo tem de integrar-se na divindade, pois, de outro modo, Deus seria parte e, portanto, incompleto, quando dever ser, realmente, o que é: o Todo, o Absoluto.

Edgard Armond

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

CICLO DAS PROVAS - Caminhos do Espírito - Edgard Armond

Existe o plano do criador, Deus - que é absoluto.

E o plano da criação, mundo fenomenal - que é relativo.

Esses dois planos representam a Vida que se manifesta como:

Divindade - Humanidade e Mundo da Forma, que são três potenciais de força e movimento, a saber:

Deus, espírito e matéria.

*

E Espírito, criado pela involução do pensamento divino, é posto no caminho da vida individual para realizar três ordens de provas, correspondentes a esses três aspectos da vida universal:

Provas referentes ao mundo da forma, provas referentes ao mundo do Espírito e provas referentes ao mundo de Deus.

Provas da matéria para obter a consciência de sua individualidade; provas do homem para desenvolver suas forças como Unidade e obter evolução progressiva; e provas de Deus para poder, ao fim da luta, integrar-se no conjunto das coisas.

Em seus elevados ensinos, Jesus Cristo disse estas frases fundamentais:

"Meus reino não é deste mundo", como se dissesse: a realidade das coisas não está no mundo da forma.

Depois: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo", como a dizer: humanidade e Deus.

Em suma, deu conhecimento integral em poucas palavras.

Se se quiser analisar estes ensinos diremos:

- A matéria não é a realidade; o homem que ame ao homem porque são eles partículas do Todo, mas, acima de tudo, está Deus.

Estes, como veem, são os três estágios da evolução do Espírito: conhecer a forma para poder dominá-la; amar ao próximo para poder integrar-se na humanidade; e aproximar-se de Deus para tornar-se um com Ele.

Edgard Armond

A CRIAÇÃO DOS SERES - Caminhos do Espírito - Edgard Armond

Mas, já que ao homem dos nossos dias foram dados conhecimentos mais avançados, qual é então, à vista desses conhecimentos, a verdade sobre a criação dos Espíritos?

Essa verdade, que de nenhuma parte recebemos, que nem o próprio Cristo nos revelou, quando sobre a Terra viveu, e que só agora, transcorridos dois mil anos, permite que nos seja dada?

Diz a 3 revelação:

"O Universo foi criado por Deus e abrange a infinidade dos mundos visíveis; todos os seres animados e inanimados dos mundos visíveis; todos os seres animados e inanimados; todos os astros e todos os fluídos que enchem o espaço".

Até aqui nada de novo, mas, continua: "Todos os germes de vida, quando a Terra se formou, já existiam em estado fluídico, no espaço a seu redor, ou em outro planeta, aguardando o momento certo para aqui baixar."

E agora, notem o que diz o texto: "e o mesmo sucedeu com a espécie humana. "Quer dizer: no que respeita a origem do homem também o germe de sua constituição já existia em estado fluídico aqui ou alhures, aguardando momento oportuno para manifestar-se na Terra.

Pelo que diz o texto, quando o momento foi oportuno, todas essas forças novas e todos esses seres em estado fluídico baixaram ao planeta e o povoaram, iniciando uma existência individual, que se caracterizou por diferentes etapas de desenvolvimento, por meio de formas inumeráveis, aperfeiçoando-se umas, eliminando-se outras, até atingirem a situação atual.

Está bem claro:  de início a Terra foi povoada por germes em estado fluídico, que aqui iniciaram sua evolução transmitindo por formas diversas e selecionando-se à medida que progrediam.

Mas a pergunta fica de pé:

- De onde procederam esses germes em estado fluídico e como foram criados? Responde o texto: sua origem é no princípio inteligente universal.

Vamos então analisar isto.

Assim como há um princípio inteligente material, que gera todas as combinações físicas, existe um princípio inteligente espiritual que, individualizando-se, dá origem aos Espíritos viventes.

Mas, esses Espíritos viventes não têm, inicialmente, por si mesmos, forma, aspecto definido. São, vamos dizer, um potencial estático de força inteligente. Para passar desse estado dinâmico visível, manifesto, evolutivo, necessita o Espírito exteriorizar-se, revelar-se na forma e isso só o consegue unindo-se, casando-se ao outro princípio - o material - que é o mesmo princípio primordial, porém, não - individualizado.

E assim, como essa união, que vai permanecer por quase todo o longo período da evolução do Espirito, aos duas linhas de força da criação divina se encontram e o triângulo dessa criação se define, tendo a divindade por vértice e matéria e Espírito por base.

Unindo-se à matéria e dentro, da progressão evolutiva o Espírito, ganha então forma, aparência, aspecto visível, corpo, e transforma-se em alma vivente, isto é, Espírito revelado, sujeito à leis cósmicas e às alternativas da vida e da morte; Espírito em evolução, isto é, Espírito que está voltando para Deus, que ganhou livre-arbítrio e que está posto na cadeia dos renascimentos, iniciando o ciclo das provas.

Edgard Armond


COMO NASCEM OS ESPÍRITOS - Caminhos do Espírito - Edgard Armond

Mas, sendo inegável que os Espíritos, como tudo o mais são criados por Deus, como surgem, como aparecem na arena da vida e da morte?

Os conhecimentos científicos e filosóficos dão o Ser como o resultado do desenvolvimento natural dos instintos de vida, por meio de formas diferentes, que vem da monera ao homem, tendo a inteligência e a razão despertado em certo período desse desenvolvimento.

Quando se lhes pergunta de onde vieram essa inteligência e essa razão, respondem que vieram do aperfeiçoamento do instinto, e se se pergunta de onde veio o instinto, dizem que veio de uma necessidade de manifestação da própria vida.

E se lhes  pergunta o que é a vida e de onde veio, respondem honestamente que não sabem.

Como veêm, há um simples tapume separando a Ciência da Verdade.

A voz prestigiosa que ditou a Grande Síntese (Pietro Ubaldi) admite esse desenvolvimento do instinto para os aspectos inteligência e razão, mas adverte que tudo vem de Deus, o que aliás, confirma mais uma vez os conhecimentos dos antigos e responde às perguntas que foram feitas ainda há pouco à Ciência.

E não há diferenças também quando os espíritos asseveram que o Espírito é inteligencia divina individualizada e que o instinto é uma forma rudimentar dessa inteligência.

Ora, nós sabemos que a verdade foi revelada aos homens progressivamente, por vários mensageiros, em diferentes épocas, e aqueles que a recebiam em certo lugar ou certo momento imaginavam serem os seus possuidores privilegiados; mas agora todos estão compreendendo que são iguais perante Deus, nos direitos e nos deveres e que aquilo que distingue um homem do outro é a sua capacidade individual de perceber as coisas e de adiantar-se mais depressa pelo próprio esforço, no sentido moral.

A Religião há de ter, mais hoje, mais amanhã, mas de qualquer forma muito em breve, a sanção da Ciência, e dará a esta também sua confirmação, porque ambas, reciprocamente reveladas e postas em harmonia, é que virão dar ao homem a chave-mestra com que ele abrirá todas as portas do conhecimento da vida.

Edgard Armond

PLANOS DA VIDA - Caminhos do Espírito - Edgard Armond

Assim nós sabemos que, no plano da vida cósmica a jornada do Espírito pode ser posta dentro deste currículo fundamental de movimento:

Criação - Involução - Evolução - Reintegração.

Criação - O ato da mente divina emitindo pensamentos que, no plano absoluto, são relâmpagos de tempo mas, no relativo em que vivemos, eternidades de tempo.

Involução - O pensamento divino se projeta com determinada força de expansão e, por efeito dessa projeção, vai descendo a escala da vibrações até o ponto mais baixo possível onde, então, toma o aspecto de matéria densa ou principio inteligente em estado rudimentar.

Evolução - Nesse ponto mais baixo de vibração desencadeia-se, pela lei universal do Ritmo, o impulso em sentido contrário, tendendo a fazer o Ser voltar à sua origem, o que então começa a realizar-se por meio do ciclo de provas.

Reintegração - É a comunhão do Espírito com a divindade, ao termo das provas e obtida sua perfeita purificação, após o desenvolvimento, em toda sua força e expressão, desse impulso interno e imanente que dormia em seu íntimo, como um potencial estático.

Edgard Armond


BUSCAI E ACHAREIS - Caminhos dos Espíritos - Edgard Armond

No que se refere às investigações, dizem alguns:

"Não devemos tentar obter aquilo que está fora do nosso alcance: vivamos dentro do Evangelho do Cristo, que já representa uma conquista enorme de sabedoria e de possibilidades espirituais ao nosso dispor."

Dizem outros: "não adianta mexer nessas coisas incompreensíveis; façamos o que for possível e nada mais."

Mas, outros revidam: "por que então nos foram dadas a razão e a inteligência? Se todos os dias verificamos que progredimos e em todas as horas incorporamos um conhecimento novo; se em todos os minutos aprendemos mais alguma coisa e em todos os segundos avançamos mais um passo para adiante, caminho a algo de novo que sabemos ilimitado; por que então parar, renunciar à luta, acomodar-se, repousar sobre louros duma vitória que ainda mal se esboça, como um traço tênue de luz, no fundo escuro e misterioso do futuro?".

Há opiniões e divergências, mas na verdade é que é necessário lutar sem descanso, infatigavelmente, para aproveitar a vida que foge rápida; já que estamos aqui nesta arena sombria, tomemos de nossas armas e combatamos o nosso combate, da melhor maneira possível, com o maior ânimo possível.

É preciso trabalhar e nos esforçamos para realizar, ainda nesta encarnação, o Evangelho sem par que está posto à nossa frente, como um farol de luz resplandecente, que alumia longe e sob seus raios, poderemos então caminhar com segurança por um caminho claro.

Um dos grande escritores espiritualista da atualidade, Paul Gibier, a propósito desse anseio de conhecimento por parte do homem, declarou que a posição deste, no momento atual, no caminho da evolução, é na zona lúcida, isto é, na zona da investigação e da compreensão.

Comunicações vindas de outra fontes esclarecem que o homem, tendo conquistado a consciência individual e evoluído em seguida para a razão, está hoje ingressando no setor da intuição, que é aquele no qual está mais próximo do Espírito.

Emmanuel, a iluminada entidade que vive agora mais em contato conosco, por fazer para da coorte que orienta o Brasil para o primado da luz, a propósito de um tema de controvérsia entre Kardecistas e rustainguístas disse:

"Para que discutir semelhantes assuntos tão profundos e tão delicados na sua essência íntima, se mesmo nos espaços vizinhos da Terra onde me encontro sobram as polêmicas e as vacilações dos Espíritos? Semelhante fenômeno tem sua origem na falta de compreensão. A morte não constitui uma renovação milagrosa do ser. Os desencarnados prosseguem lutando no complexo de suas próprias iniciativas, para a obtenção da amplitude de conhecimentos superiores do Universo e do mecanismo divino de suas leis. Mas, todos nós, remata ele, estamos no caminho do conhecimento integral."

Por isso, é preciso discutir e debater todos os assuntos ligados à nossa vida para compreendê-los o mais depressa possível, e aqueles que ultrapassarem a capacidade da razão cairão, mais hoje, mais amanhã, na esfera da intuição e teremos deles, mesmo que vaga, alguma noção que sempre valerá como um  prêmio ao nosso esforço.

É claro que não devemos permanecer nos conhecimentos teóricos, mas viver nossa vida segundo esses conhecimentos, proceder à nossa reforma espiritual de acordo com  as novas concepções e direções que esses conhecimentos nos dão.

Como seres em evolução, devemos seguir sempre para diante, rastreando a vida onde quer que ela se encontre, desenvolvendo, na maior amplitude possível, a nossa percepção das coisas, mas caminhando sempre dentro da estrada que nos foi apontada pelos Mestre e sem nos afastarmos do caminho luminoso, que nos traçou com sua própria vida, em letras de luz e de sangue.

Caminhar levando em uma das mãos o Evangelho - que é ciência da fé - compreensão estática que espiritualiza; e noutra a Ciência - que é o evangelho da razão - compreensão dinâmica produtora de força e de convicção.

Edgard Armond

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A CASA MENTAL


Retomando a companhia de Calderaro, na manhã luminosa absorvia-me o propósito de enriquecer noções pertinentes às manifestações da vida próxima à esfera física.

Admitido à colônia espiritual, que me recebera com extremado carinho, conhecia de perto alguns instrutores e fiéis operários do bem.

Inquestionavelmente, vivíamos todos em intenso trabalho, com escassas horas reservadas a excursões de entretenimento; demais, fruíamos ambiente de felicidade e alegria a favorecer-nos a marcha evolutiva. Nossos templos constituíam por si sós, abençoados núcleos de conforto e de revigoramento. Nas associações culturais e artísticas encontrávamos a continuidade da existência terrestre, enriquecida, porém, de múltiplos elementos educativos. O campo social regurgitava de oportunidades maravilhosas para a aquisição de inestimáveis afeições. Os lares, em que situávamos o serviço diuturno, erguiam-se entre jardins encantadores, quais ninhos tépidos e venturosos em frontes perfumadas e tranquilas.

Não nos faltavam determinações e deveres, ordem e disciplina; entretanto, a serenidade era nosso clima, e a paz, nossa dádiva de cada dia.

Arremessara-nos a morte a atmosfera estranha à luta física. A primeira sensação fora o choque. Empolgara-nos o imprevisto. Continuávamos vivendo, apenas sem a máquina fisiológica, mas as novas condições de existência não significavam subtração da oportunidade de evolver. Os motivos de competição benéfica, as possiblidades de crescimento espiritual haviam lucrado infinitamente. Podíamos recorrer aos poderes superiores, entreter relações edificantes, tecer esperanças e sonhos de amor, projetar experiências mais elevadas no setor reencarnacionista, aprimorando-nos no trabalho e no estudo e dilatando a capacidade de servir.

Em suma, a passagem pelo sepulcro condizia-nos a uma vida melhor; mas... E os milhões que transpunham o estreito limiar da morte, permanecendo apegados à Crosta da Terra?

Incalculáveis multidões desse gênero mantinham-se na fase rudimentar do conhecimento; apenas possuíam algumas informações primárias da vida; exoravam amparo dos Espíritos Superiores, como as tribos primitivas reclamam o concurso dos homens civilizados; precisavam desenvolver faculdades, como as crianças de crescer; não permaneciam chumbadas à esfera carnal pro maldade, senão que se demoravam, hesitantes, no chão terreno, como os pequeninos descendentes dos homens se conchegam ao seio materno; guardavam das existências apenas lembranças do campo sensitivo, reclamando a reencarnação quase imediata quando lhes não era possível à matrícula em nossos educandários de serviço e aprendizado iniciais. Por outro lado, verdadeiras falanges de criminosos e transviados agitavam-se, não longe de nós, depois de haverem transposto as fronteiras do túmulo; consumiam, por vezes, inúmeros anos entre a revolta e a desesperação, personificando hórridos gênios da sombra, como ocorre, nos círculos terrenos, com os delinquentes contumazes, segregados da sociedade sadia; mas sempre terminavam a corrida louca nos desvios escuros do remorso e do sofrimento, penitenciando-se, por fim, de suas perversidades. O arrependimento é, porém, caminho para a regeneração e nunca passaporte direto para o céu, razão pela qual esses infelizes formavam quadros vivos de padecimento e de horror.

Em várias experiências, via-os conturbados e aflitos, assumindo formas desagradáveis ao olhar.

Nos casos de obsessão convertiam-se em recíprocos algozes, ou, então, em verdugos frios das vítimas encarnadas; quando errantes ou circunscritos aos vales de punição, aterravam sempre pelos espetáculos de dor e de miséria sem limites.

No entanto, era forçoso convir, eles, os desventurados, e nós outros, que continuávamos trabalhando em ritmo normal, atravessáramos o invólucro material sob o assédio de doenças análogas. Isto considerando e por desejar conhecer a Divina Lei, que não concede paraísos de favor nem estabelece infernos eternais, confrangia-me o comtemplar as imensas fileiras de infortunados.

Efetivamente, identificara numerosos deles em câmaras retificadoras, através de múltiplas instituições de beneficência; todavia, esses, situados na zona de amparo fraterno, apresentavam a seu favor sintomas de melhora quanto ao reconhecimento das próprias falhas ou aos créditos espirituais de que gozavam, mercê de certas forças intercessoras.

Os infelizes, a que aludimos, provinham, porém, de outras origens. Eram os ignorantes, os revoltados, os perturbadores e os impenitentes, de alma impermeável às advertências edificantes, os enfatuados e os vaidosos dos mais vários matizes, perseverantes no mal, dissipadores da energia anímica, em atitudes perversas diante da vida.

Meu contato com eles, em diversas ocasiões, fora simples encontro fortuito, sem maior significado para meu esclarecimento.

Por que motivo se demorava no hemisfério obscuro da incompreensão? Adiavam deliberadamente a recepção da luz? Não lhes doeria a condição de seres condenados, por si mesmos, a longas penas? Não experimentariam vergonha pela perda voluntária de tempo? Muita vez, surpreendia-me a contemplá-los... Os traços fisionômicos de muitos desses desventurados pareciam monstruosos desenho, provocando ironia e piedade. Que lei regeria a estereotipação de suas formas? Tê-los-ia olvidado a mãe-natureza, pródiga de bênçãos em todos os planos, ou recebiam eles esses traços de apresentação pessoal como castigo imposto por superiores desígnios?

Tais interrogações que me esfervilhavam no cérebro me punham aflito por viver a possibilidade que se me oferecia.

Aproximei-me de Calderaro, naquela manhã, sedento de saber. Expus-lhe minhas indagações íntimas, relatei-lhe aos ouvidos tolerantes minhas expectativas ansiosas, longamente sofreadas; pretendia conhecer os que se entretinham na maldade, no crime, na inconformação.

Meu amigo escutou calmo, sorriu benevolente e começou por esclarecer:

- Antes de mais nada, André, modifiquemos o conceito. Para transforma-nos em legítimos elementos de auxílio aos Espíritos sofredores, desencarnados ou não, é-nos imprescindível compreender a perversidade como loucura, a revolta como ignorância e o desespero com enfermidade.

Ante a minha perplexidade, acrescentou, fraternal:

- Entendeste? Estas definições, em verdade, não são minhas. Aprendemo-las do Cristo, em seu trato divino com a nossa posição de inferioridade, na Crosta Terrestre.

Julguei que o Instrutor se estendesse em longa exposição verbalista, relativa ao assunto, trazendo referências preciosas e comentando experiências pessoais. Nada disto; Calderaro informou-me simplesmente:

- A cegueira do espírito é fruto da espessa ignorância em manifestações primarias ou do obnubilamento da razão nos estados de aviltamento do ser. Nosso interesse, no socorro mente desequilibrada, é analisar este último aspecto da sombra que pesa sobre as almas; assim sendo, faz-se mister saberes alguma coisa da loucura no âmbito da civilização. Para isto, convém estudarmos mais detidamente, o cérebro do homem encarnado e o do home desencarnado em posição desarmônica, por situarmos aí o órgão de manifestação da atividade espiritual.

Desejaria continuar ouvindo-o nas explicações claras e convincentes, a lhe fluírem dos lábios, mas Calderaro silenciou para afirmar, passados alguns instantes:

- Não disponho de muito tempo para discretear de matéria estranha aos meus serviços; todavia, lidaremos juntos, convictos de que, trabalhando nas boas obras, aprendemos sempre a ciência da elevação.

Sorriu fraternal, e rematou:

Daí a minutos, acompanhando-o, penetrei vasto hospital, detendo-nos diante do leito de certo enfermo, que o Assistente deveria socorrer. Abatido e pálido, mantinha-se ele unido a deplorável entidade de nosso plano, em míseras condições de inferioridade e de sofrimento. O doente, embora quase imóvel, acusava forte tensão de nervos, sem perceber, com os olhos físicos, a presença de companheiro de sinistro aspecto. Pareciam visceralmente jungidos um ao outro, tal a abundância de dois tenuíssimos que mutualmente os entrelaçavam, desde o tórax à cabeça, pelo que se me afiguravam dois prisioneiros de uma rede fluídica. Pensamento de um deles com certeza viveriam no cérebro do outro. Comoções e sentimentos seriam permutados entre ambos com matemática precisão. Espiritualmente, estariam, de contínuo, perfeitamente identificados entre si. Observava-lhes, admirado, o fluxo de comuns vibrações mentais.

Dispunha-me a comentar o fenômeno, quando Calderaro, percebendo-me a intenção, se adiantou, recomendando:

- Examina o cérebro de nosso irmão encarnado.

Concentrei-me na contemplação do delicado aparelho, centralizando toda a minha capacidade visual, de modo a analisa-lo interiormente.

O envoltório craniano, ante meus poderes visuais intensificados, não apresentava resistência. Como reparara de outras vezes, ali estava o complicado departamento da produção mental, semelhando-se a laboratório dos mais complexos e menos acessíveis. As circunvoluções separadas entre si, reunidas em lobos, igualmente distanciados uns dos outros pelas cissuras, davam-me a ideia de um aparelho elétrico, quase indevassado pelos homens. Comparando os dois hemisférios, recordei as designações da terminologia clássica e demorei-me longos minutos reparando as especiais disposições dos nervos e as características da substância cinzenta.

A voz do meu orientador quebrou o silêncio, exclamando inopinadamente:

-Observa a sinalização;

Assombrado, notei, pela primeira vez, que as irradiações emitidas pelo cérebro continham diferenças essenciais. Cada centro motor assinalava-se com peculiaridade diversa, através das forças radiantes. Descobri surpreso, que toda a província cerebral, pelos sinais frontais, as zonas de associação eram quase brilhantes. Do córtex motor, até a extremidade da medula espinhal, a claridade diminuía, para tomar-se ainda mais fraca nos gânglios basais.

Já despendia alguns minutos na contemplação das células nervosas, quando o Assistente me aconselhou:

- Examinaste o cérebro do companheiro que ainda se prende ao veículo denso; observa, agora, o mesmo órgão no amigo desencarnado que i influencia de modo direto.

A entidade, que não se dava conta de nossa presença, em virtude do círculo de vibrações grosseiras em que se mantinha, fixava toda a atenção no doente, lembrando a sagacidade de um felino vigiando a presa.

Observei-lhe estranha ferida na região torácica e dispunha-me a investigar lhe a causa, sondando os pulmões, quando Calderaro me corrigiu se afetação:

- Trataremos da chaga no trabalho de assistência. Concentra as possibilidades da visão no cérebro.

Decorridos alguns momentos, concluí que, à parte a configuração das peças e o ritmo vibratório tinham sob os olhos dois cérebros quase idênticos. Diferia o campo mental do desencarnado, revelando alguma superioridade no terreno da substância, que, no corpo perispiritual, era mais leve e menos obscura. Tive a impressão de que, se lavássemos, por dentro, o cérebro do amigo estirado no leito, escoimando-o de certos corpúsculos mais pesados, seria ele quase igual, em essência, ao da entidade que eu mantinha sob exame. As divisões luminosas, porém, eram em tudo análogas. Mais luz nos lobos frontais, menos luz no córtex motor e quase nenhuma na medula espinhal, onde as irradiações se faziam difusas e opacas.

Interrompi o estudo comparativo, depois de acurada perquirição, e fixei Calderaro em silenciosa interrogativa.

O prestimoso mentor argumentou sorridente:

- Depois da morte física, o que há de mais surpreendente para nós é o reencontro da vida. Aqui aprendemos que o organismo perispirítico que nos condiciona em matéria mais leve e mais plástica, após o sepulcro, é fruto igualmente do processo evolutivo. Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio a milênio. Não há favoritismo no Templo Universal do Eterno e todas as forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito. A crisálida de consciência, que reside no cristal a rolar na corrente do rio, aí se acha em processo liberatório; as árvores que por vezes se aprumam centenas de anos, a supor os golpes do inverno e acalentadas pelas carícias da primavera, estão conquistando a memória; a fêmea do tigre, lambendo os filhinhos recém-natos, aprende rudimentos do amor; o símio, guinchando, organiza a faculdade da palavra. Em verdade, Deus criou o mundo, mas nós nos conservamos ainda longe da obra completa. Os seres que habitam o Universo ressumbrarão suor por muito tempo, a aprimorá-lo. Assim também a individualidade. Somos criação do Autor Divino e devemos aperfeiçoar-nos integralmente. O Eterno Pai estabeleceu como lei universal que seja a perfeição obra de cooperativismo ente Ele e nós, os seus filhos.

O mentor silenciou por instantes, sem que me acudisse ânimo suficiente para trazer qualquer comentário aos seus elevados conceitos.

Logo após, indicou-me a medula espinhal e continuou:

- Creio ociosa qualquer alusão aos trabalhos primordiais do nosso longo drama de vida evolutiva. Desde a ameba, na tépida água do mar, até o homem, vimos lutando, aprendendo e selecionando invariavelmente. Para adquirir movimento e músculos, faculdades e raciocínios, experimentamos a vida e por ela fomos experimentados, milhares de anos. As páginas da sabedoria hinduísta são escritos de ontem e a Boa-Nova de Jesus-Cristo é matéria de hoje, comparadas aos milênios vividos por nós, na jornada progressiva.

Depois de fazer com a destra significativo gesto, prosseguiu:

- No sistema nervoso, temos o cérebro inicial, repositório dos movimentos instintivos e sede das atividades subconscientes; figuremo-lo como sendo o porão da individualidade, onde arquivamos todas as experiências e registramos os menores fatos da vida. Na região do córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa mente para as manifestações imprescindíveis no atual momento evolutivo do nosso modo de ser. Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais nobre de nosso organismo divino em evolução. 

Os esclarecimentos singelos e admiráveis empolgavam-me. Calderaro era educador da mais elevada estirpe. Ensinava sem cansar, sabia conduzir o aprendiz a conhecimentos profundos sem nenhum sacrifício da parte do aluno.

Apreciava lhe eu a nobreza, quando prosseguiu, findo breve intervalo:

- Não podemos dizer que possuímos três cérebros simultaneamente. Temos apenas um que, porém, se divide em três regiões distintas. Tomemo-lo como se fora um castelo de três andares: no primeiro situamos a residência de nossos impulsos automáticos, simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados; no segundo localizamos o domicílio das conquistas atuais, onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando; no terceiro, temos a casa das noções superiores, indicando as eminências que nos cumpre atingir. Num deles moram o hábito e o automatismo; no outro residem o esforço e a vontade; e no último demoram o ideal e a meta superior a se alcançada. Distribuímos, deste modo, nos três andares, o subconsciente, o consciente e o superconcentre. Como vemos. Possuímos, em nós mesmos, o passado, o presente e o futuro.

Verificando-se pausa mais longa, dei curso às ponderações íntimas, segundo antigo vezo de inquirir.

As preciosas explicações que ouvira não poderiam ser mais simples, nem mais lógicas. Entretanto, perquiria a mim mesmo: o cérebro de um desencarnado seria também suscetível de adoecer? Sabia eu que a substância cinzenta, no mundo carnal, podia ser acometida pelos tumores, pelo amolecimento, pela hemorragia; mas na esfera nova, a que a morte me conduzira que fenômenos mórbidos assediariam a mente?

Calderaro registrando-me as indagações e esclareceu:

-Não discutiremos aqui as moléstias físicas propriamente ditas. Quem acompanha, como nós, desde muito tempo, o ministério dos psiquiatras verdadeiramente consagrados ao bem do próximo, conhece, à saciedade, que todos os títulos de gratidão humana permanecem inexpressivos ante o apostolado de um Paul Broca, que identificou a enfermidade do centro da palavra, ou de um Wagner Jauregg, que se dedicou à cura da paralisia, em perseguição ao espiroqueta da sífilis, até encontra-lo no recesso da matéria cinzenta, perturbando as zonas motoras. Diante de fenômenos como estes, é compreensível a quebra da harmonia cerebral em consequência de compulsoriamente se arredarem das aglutinações celulares do campo fisiológicos os princípios do corpo perispiritual; essas aglutinações ficam, então, desordenadas em sua estrutura e atividade normais, qual acontece ao violino incapacitado para a execução perfeita dum trecho melódico, por trazer uma ou duas cordas desafinadas. Não devemos, nem podemos ignorar as leis que regem os domínios da forma. Daí a impossibilidade de querermos psicologia equilibrada sem fisiologia harmoniosa, na esfera da ciência humana: isto é caso pacífico. Referir-nos-emos tão só às manifestações espirituais em sua essência. Indagas se a mente desencarnada pode adoecer... Quer pergunta! Cuidas que a maldade deliberada não seja moléstia da alma? Que o ódio não constitui morbo terrível? Supões, porventura, não haja vermes mentais da tristeza e da inconformação? Embora tenhamos a felicidade de agir num corpo mais sutil e mais leve, graças à natureza de nossos pensamentos e aspirações, já distantes das zonas grosseiras da vida que deixamos, não possuímos ainda o cérebro dos anjos. Constitui-nos incessante trabalho a conservação de nossa forma atual, a caminho de conquistas mais alcandoradas; não podemos descansar nos processos iluminativos; cumpre-nos purificar sempre, selecionar pendores e joeirar concepções, de molde a não interromper a marcha. Milhões vivem aqui, na posição em que nos achamos, mas outros milhões permanecem na carne ou em nossas linhas mais baixas de evolução, sob o guante de atroz demência. É para esses que devemos cogitar da patologia do espírito, socorrendo os mais infelizes e interferindo fraternal e indiretamente na solução de problemas escabrosos em cujos fios negros, em terrível colheita de espinhos e desilusões. O corpo perispiritual humano, vaso de nossas manifestações, é, por ora, a nossa mais alta conquista na Terra, no capítulo das formas. Para as almas esclarecidas, já iluminadas de redentora luz, representa ele uma ponte para o campo superior da vida eterna, ainda não atingido por nós mesmos; para os espíritos vulgares é a restrição indispensável e justa; para as consciências culpadas, é cadeia intraduzível, pois, além do mais, registra os erros cometidos, guardando-os com todas as particularidades vivas dos negros momentos da queda. O gênero da vida de cada um, no invólucro carnal, determina a densidade do organismo após a perda do corpo denso. Ora, o cérebro é o instrumento que traduz a mente, manancial de nossos pensamentos. Através dele, pois, unimo-nos à luz ou à treva, ao bem ou ao mal.

Percebendo a atenção com que lhe seguia os preciosos esclarecimentos, Calderaro sorriu significativamente e perguntou:

- Compreendestes?

Indicando os dois sofredores, ao nosso lado, prosseguiu:

-Examinamos aqui dois enfermos: um, na carne; outro, fora dela. Ambos trazem o cérebro intoxicado, sintonizando-se absolutamente um com o outro. Espiritualmente, rolaram do terceiro anda, onde situamos a concepções superiores, e, entregando-se ao relaxamento da vontade, deixaram de acolher-se no segundo andar, sede do esforço próprio, perdendo valiosa oportunidade de reerguer-se; caíram, destarte, na esfera dos impulsos instintivos, onde se arquivam todas as experiências da animalidade anterior. Ambos detestam a vida, odeiam-se reciprocamente, desesperam-se, asilam ideias de tormento, de aflição, de vingança. Em suma, estão loucos, embora o mundo lhes não vislumbre o supremo desequilíbrio, que se verifica no íntimo da organização perispiritual.

Dispunham-me a desfiar longa lista de perguntas alusivas às duas personagens em foco, mas o interlocutor iniciou o serviço de assistência direta e, impondo a destra no lobo frontal esquerdo do doente encarnado, falou-me, afável:

- Cala meu amigo, tuas ansiosas indagações. Acalma-te. No transcurso de nossos trabalhos explicar-te-ei quanto estiver ao alcance de meus conhecimentos.

Cap. 3 - Livro No Mundo Maior – André Luiz – Francisco Cândido Xavier.

ANTE O DIVÓRCIO - EMMANUEL

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