Parentes e o advogado de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, suspeito de ter matado o cartunista Glauco e o filho Raoni, afirmam que o homicida fazia tratamento psicológico, psiquiátrico e antidrogas, e que seu quadro de esquizogrenia teria agravado após ter tido contato com a igreja do santo Daime. Há dois anos, Carlos Eduardo começou a frequentar a seita. E isso coincide com o tempo em que seu estado de saúde piorou. Alguns afirmaram que não se deveria permitir que o jovem ingerisse a bebida enteógena. Para alguns estudiosos, ingerir bebida enteógena (1) sacramental, conhecida como chá de Ayahuasca (santo Daime), pode agravar ou gerar um estado psicótico ou problemas psicológicos.
O chá de Ayahuasca é consumido por comunidades indígenas da Amazônia há, pelo menos, 300 anos e para alguns não chega a ser um alucinógeno, porém, provoca um estado alterado de consciência e, por isso, não é combatido nem condenado pelas autoridades. Seguidores dessas seitas afirmam que o uso do Daime nos cultos não deve ser encarado como uma droga, mas, sim, como um elemento “religioso” importante. Porém, sabemos que muitas substâncias “inofensivas”, além de serem tóxicas, também, são viciativas, ou seja, causam dependência, que pode ser física, psicológica e, por via de extensão, “espiritual”. Para tais praticantes, beber o chá não traz problemas à saúde física e mental, se for administrado corretamente. E se não for administrado corretamente? Estamos convencidos de que essa relação é emblemática.
Quem ingere chá de Ayahuasca tem alteração de consciência. Pode ocorrer certo descontrole, dor e perturbação evidentes; sintomas que são percebidos, inclusive, em nível de sensações perispirituais. Se o objetivo (o tal caráter “religioso”) for manter contato com o “mundo espiritual”, é importante alertar que, para se obter um intercâmbio com o mundo dos espíritos, é, absolutamente, dispensável a ingestão de quaisquer substâncias modificadoras da consciência. Portanto, é, totalmente, desnecessária a utilização do chá do santo Daime para esse fim; nem mesmo pode-se dizer que facilite o transe mediúnico; muito pelo contrário, pode ser, inclusive, prejudicial, dependendo do caso. O transe mediúnico é favorecido pela educação dos sentimentos e não por meios artificiais, pois é um fenômeno, absolutamente, natural.
Há alguns anos, pesquisadores da USP, de Ribeirão Preto, tentam conhecer melhor os efeitos do chá usado no Santo Daime e como ele atua no cérebro. Após a ingestão do chá, a substância vai para o estômago, entra na corrente sanguínea e segue para o cérebro, onde se espalha. O lado mais ativado é o hemisfério direito, que controla as emoções, como: satisfação, insatisfação, equilíbrio, desequilíbrio e euforia. Os estudos mostram que o chá leva, em média, meia hora para fazer efeito. Em uma hora, as pessoas começam a apresentar alterações de comportamento: primeiro, um estado de relaxamento; depois, muita euforia e, logo em seguida, alteração de percepções. É quando começam as visões distorcidas do cérebro.
A Doutrina Espírita esclarece que “os órgãos têm uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades [espirituais]; porém, não as produzem; eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.” (2) O Espírito age sobre a matéria e a matéria reage sobre o Espírito numa certa medida, e o Espírito pode se encontrar, momentaneamente, impressionado pela alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe suas impressões materiais”. (3) Cada caso é um caso, mas, sabe-se que certas substâncias, que alteram a consciência, trazem conseqüências para o corpo físico, para o perispírito e para a mente. Para o corpo físico, são inúmeros os malefícios, desde a dependência física e sintomas que podem levar a quadros de intoxicação aguda, até a morte (há caso registrado em Goiás). Para o perispírito, a consequência é a impregnação energética-mórbida nesse corpo. E pior, o psicossoma, que é o modelo organizador biológico, leva, com ele, toda a lesão, inclusive, para outra encarnação.
“A loucura tem, como causa principal, uma predisposição orgânica do cérebro, que o torna, mais ou menos, acessível a algumas impressões. Se houver predisposição para a loucura, ela assume um caráter de preocupação principal, transformando-se em idéia fixa, podendo tanto ser a dos Espíritos, em quem com eles se ocupou, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade ou a de um sistema político-social.” (4) No trágico caso “Cadu/Glauco/Raoni”, tudo nos leva a crer que o homicida é um esquizofrênico. Sua doença mental apresenta um conjunto de sintomas bastante diversificado e complexo, sendo, por vezes, de difícil compreensão. Essa psicopatologia pode surgir e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões. Hoje, é encarada, não como uma doença única, mas, como um grupo de enfermidades, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos. Geralmente, o diagnóstico tem mostrado níveis de confiabilidade, relativamente, baixos ou inconsistentes.
Lembrando, aqui, que a esquizofrenia não é a dupla pessoalidade, pois é muito mais ampla que isso, e não há motivos de incluir, nela, os Transtornos de Personalidade Múltipla. É uma doença gravíssima que atinge, aproximadamente, 60 milhões de pessoas do planeta (1% da população mundial), sendo distribuída, de forma igual, pelos dois sexos. A sua diagnose tem sido criticada como desprovida de validade científica ou confiabilidade, e, em geral, a validade dos diagnósticos psiquiátricos tem sido objeto de críticas. Os sintomas podem ser confundidos com "crises existenciais", "revoltas contra o sistema", "alienação egoísta", uso de drogas, etc.
O delírio de identidade (achar que é outra pessoa - o Carlos Eduardo acreditava ser “Jesus”) é a marca típica de um esquizofrênico. Foi, durante muitos anos, sinônimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia significava internação em hospitais psiquiátricos (manicômios) ou asilos, como destino "certo", onde os pacientes ficavam durante vários anos. A Organização Mundial de Saúde editou critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. As causas do processo patogênico são um mosaico: a única coisa evidente é a constituição pluricausal da doença. Isso inclui mudanças na química cerebral [a atividade dopaminérgica é muito elevada nos indivíduos esquizofrênicos], fatores genéticos e, mesmo, alterações estruturais.
É importante frisar que a Esquizofrenia tem cura. Até bem pouco tempo, pensava-se que era incurável e que se convertia, obrigatoriamente, em uma doença crônica e para toda a vida. Atualmente, entretanto, sabe-se que uma porcentagem de pessoas que sofre desse transtorno pode recuperar-se por completo e levar uma vida normal, como qualquer outra.
Não podemos desconsiderar, ante o fato (“Cadu/Glauco/Raoni”) narrado no texto, o processo obsessivo, consoante esclarecem os ditames doutrinários. André Luiz, Espírito, comenta que “muitos dos nossos irmãos desencarnados, ainda presos a sentimentos de ódio e ira, cercam suas vítimas encarnadas, formando perturbações que podemos classificar como "infecções fluídicas" e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura”. (5)
Jorge hessen
http://jorgehessen.net
Fontes:
(1) estado xamânico ou de êxtase induzida pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência. É um neologismo que vem do inglês: entheogen ou entheogenic proposto por estudiosos desde 1973.
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questão 372
(3) Idem questão 375
(4) Idem – Introdução , item 15, A Loucura e o Espiritismo
(5) Xavier, Francisco Cândido. Evolução Em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000
Extraído: https://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/2010/03/ayahuasca-estado-alterado-da.html
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