terça-feira, 27 de março de 2018

CONHECIMENTO DE SI MESMO

L.E. 919. Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal?

- Um sábio da Antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”.

L.E. 919-a. Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificuldade está precisamente em se conhecer a si próprio. Qual meio de chegar a isso?

- Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: no fim de cada dia interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim, necessitava de reforma. Aquele que todas as noites lembrasse todas as ações do dia e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá. Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagar o que fizestes e com que fito agiste em determinada circunstância, se fizestes alguma coisa que a censuraríeis-nos outros, se praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, teria eu de temer o olhar de alguém? Examinai o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo, e por fim contra vós mesmos. As respostas serão motivo de repouso para vossa consciência ou indicarão um mal que deve ser curado.

O conhecimento de si mesmo é, portanto a chave do melhoramento individual. Mas, direis, como julgar a si mesmo? Não se terá a ilusão do amor-próprio, que atenua as faltas e as toma desculpáveis? O avaro se julga simplesmente econômico e previdente, o orgulhoso se considera tão-somente cheio de dignidade. Tudo isso é muito certo, mas tendes um meio de controle que não vos pode enganar. Quando estais indecisos quanto ao valor de uma de vossas ações, perguntai como a qualificaríeis se tivesse sido praticada por outra pessoa. SE a censurardes em outro, ela não poderia ser mais legítima para vós, porque Deus não usa de duas medidas para a justiça. Procurai também saber o que pensam os outros e não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque eles, não têm nenhum interesse em disfarçar a verdade e realmente Deus os colocou ao vosso lado com um espelho, para vos advertirem com mais franqueza do que o faria um amigo. Que aquele que tem a verdadeira vontade de ser melhorar explore, portanto, a sua consciência, a fim de arrancar dali as mais tendências como arranca as ervas daninhas do seu jardim que faça o balanço da sua jornada moral como o negociante o faz dos seus lucros e perdas, e eu vos asseguro que o primeiro será mais proveitoso que o outro. Se ele puder dizer que a sua jornada foi boa, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.

Formulai, portanto, perguntas claras e precisas e não temais multiplica-las; pode-se muito bem consagrar alguns minutos à conquista da felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias para ajuntar o que vos dê repouso na velhice? Esse repouso não é o objeto de todos os vossos desejos, o alvo que vos permite sofrer as fadigas e as provações passageiras? Pois bem; o que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquilo que aguarda o homem de bem? Isto é positivo e o futuro incerto. Ora, aí está, precisamente, o pensamento que fomos encarregados de destruir em vossas mentes, pois desejamos fazer-vos compreender esse futuro de maneira a que nenhuma dúvida possa restar em vossa alma. Foi por isso que chamamos primeiro a vossa atenção para os fenômenos da Natureza que vos tocam os sentidos e depois vos demos instruções que cada um de nós tem o dever de difundir. Foi com esse propósito que ditamos “O Livro do Espírito”.
Santo Agostinho



Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, com efeito, seguimos o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais frequentemente a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem disso nos apercebermos, por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais precisa do que uma máxima que em geral não aplicamos a nós mesmos. Ela exige respostas categóricas, por um sim ou um não, que não deixam lugar a alternativas, respostas que são outras tantos argumentos pessoais, pela soma dos quais podemos computar a soma do bem e do mal que existe em nós.

segunda-feira, 12 de março de 2018

AS BASES DO TRANSFORMAR-SE - O CONHECER-SE PELA DOR




“Todos quantos sejam feridos no coração por reveses e decepções da vida, consultem serenamente a sua consciência, remontem pouco a pouco à causa dos males que os afligem, e verão, se as mais das vezes, não poderão confessar: se eu tivesse feito, ou se não tivesse feito tal coisa, não estaria nesta situação.”
( Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap V Bem Aventurados os Aflitos)


A transgressão aos limites da nossa liberdade de ação, dentro do equilíbrio natural que rege as existência, é quase sempre por nós reconhecida somente através das consequências colhidas  através dos efeitos das reações que nos atingem. A semeadura é livre, a colheita é obrigatória.  

“Quem semeia ventos, colhe tempestades.”


Pela dor retificamos as nossas mazelas do ontem longínquo ou próximo: de outras existências ou da presente vida. Indubitavelmente, os processos de sofrimento, nas suas mais variadas formas, provocam, na nossa alma, o despertar da consciência e a ampliação do nosso grau de sensibilidade, para percebermos os aspectos edificantes que o coração, nas suas manifestações mais nobres, pode realizar.

Quando enfermos,  vítimas do nosso próprio desequilíbrio, sofremos os males físicos das doenças contraídas pela falta de vigilância, que abre nossas defesas vibratórias às investidas bacterianas no campo orgânico. É n tratamento e no restabelecimento da saúde que somos naturalmente levados a meditar sobre as origens e os motivos da doença. Se estamos conformados e obedecemos as orientações médicas, mais rapidamente nos recompomos; se, porém, somos inflexíveis e descremos da necessidade de mudar nossos hábitos, mais lentamente nos restabeleceremos. Quem passa por um período de tratamento, sente e sabe o que sofreu e, nem que seja apenas por autodefesa, toma certos cuidados, como mudar seus costumes, transformar sua conduta, para que não venha a ter uma recaída e, assim, sofrer as mesmas dores, repetir as experiências desagradáveis.

Realizar-se, desse modo, um processo de autoconhecimento com relação a alguns aspectos de nosso comportamento, cde nossa forma de vida.

Nessas ocasiões em que adoecemos, muitas vezes somos obrigados a permanecer imóveis num leito, semiconscientes ou sentindo dores dilacerantes, à beira do desespero, por vários dias. E quando recebemos o alívio confortador de uma vibração suave, transmitida por um coração amigo que nos cuida ou nos visita como ficamos agradecidos! Como reconhecemos os valores aparentemente insignificantes dessas expressões de carinho! E quem recebe desperta em si o desejo de proporcionar a outros o mesmo alívio, o mesmo bálsamo. Amplia-se, assim, a nossa sensibilidade ao sofrimento do próximo, além do fortalecimento da fé na bondade do Criador e dos próprios corações humanos. Quantas criaturas não se transformam radicalmente depois de uma grave enfermidade? Quantos não descobrem dentro de si os valores eternos do espírito, após terem sofrido longos períodos de tratamento ou perdas irreparáveis de entes queridos, após padecerem com dores morais, desilusões de caráter afetivo ou dificuldades materiais, que nos ensinam a valorizar as coisas simples da vida? Quantos que, estando à beira da morte, hoje valorizam a vida, praticando caridades e distribuindo carinho ao próximo?

As dores, sob qualquer forma, ensinam-nos profundamente a nos conhecer, a nos transformar, e, por mais que soframos, precisamos ter a disposição íntima de agradecer, porque no mundo de facilidades e de atrativos para os impulsos do ser imediatista e físico que ainda abrigamos, são as oportunidades que a dor nos proporciona, algumas das maneiras mais eficazes de transformação desse homem animalizado e insensível. Valorizemos a nossa dor, tomemos a nossa cruz e com ela caminhemos para a nossa redenção.
Extraído o livro Manual Prático do Espírita - Ney Pietro Peres

domingo, 11 de março de 2018

AS BASES DO TRANSFORMAR-SE - CONHECER-SE NO CONVÍVIO COM O PRÓXIMO






“Amar ao próximo como a si mesmo, fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, é a mais  completa expressão da caridade, pois que resume todos os deveres para com o próximo”( Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo cap XI amar aos próximo como a si mesmo)


No relacionamento entre os seres humanos, as experiências vividas ensinam constantemente lições sociais, através de nossas reações com o meio e das manifestações que o meio nos provoca.

O campo das relações humanas, já pesquisado amplamente, talvez seja a área de experiências mais significativa para a evolução moral do homem.

O tempo vai realizando progressivamente o amadurecimento de cada criatura, na medida em que aprendemos, no convívio com o próximo, a identificar nossas reações de comportamento e a discipliná-las.

O relacionamento mais direto acha-se o meio familiar, onde desde criança brotam espontaneamente nossos impulsos e reações. Nessa fase gravam-se impressões em nosso campo emocional que repercutirão durante toda nossa existência. Quantos quadros ficam plasmados na alma sensível de uma criança. Quadros esses que podem levá-la a inconformações, angústias profundas, desejos recalcados, traumas, caracterizando comportamentos e disposições na fase da adolescência e na adulta.

Guardamos do relacionamento com os pais, irmãos, tios, primos e avós, os reflexos que mais nos marcaram.

Começamos, então, numa busca tranquila, a conhecer como reagimos e por que reagimos, na infância e na adolescência, aos apelos agressões, contendas, choques de interesses. Essas reações emocionais, que normalmente não se registram com clareza nos níveis da consciência, deixam, entretanto, suas marcas indeléveis nas profundidades do inconsciente.

Importantes são as suaves e doces experiências daqueles primeiros períodos da nossa vida, quando os corações amorosos de uma mãe, de um pai, de um irmão, de uma professora, pelas expressões de carinho e de compreensão, aquecem nossa alma em formação e nela gravam o conforto emocional que tantos benefícios nos fizeram, predispondo-nos às coisas boas, às expressões de amor, que, por termos conhecido e recebido, aprendemos a dar e a proporcionar aos outros. Essas ternas experiências constituem necessários pontos de apoio ao nosso espírito, para que possamos prosseguir e ampliar nossas obras nas expressões do coração.

No convívio escolar, iniciamos as primeiras experiências como o meio social fora dos limites familiares. As reações já não são tão espontâneas. Retraímo-nos às vezes; a timidez e o acanhamento refletem de início a falta de confiança nas professoras e nos colegas de turma. Aprendemos paulatinamente a nos comportar na sociedade, com reservas. Sufocamos, por vezes, desejos e expressões interiores, e até mesmo defendemos com violência nossos interesses, mesmo que ainda infantis. E também brigamos com aqueles que caçoam de alguma particularidade nossa. Quase sempre retribuímos com bondade aos que são bondosos conosco. E devolvemos insultos aos que nos agridem. Sem dúvida são reações naturais, embora ainda bem primárias.

Vamos assim caminhando para a adolescência, fase em que nossos desejos se acentuam. O querer começa a surgir, a auto-afirmação emerge naturalmente, a nossa personalidade se configura. Aparecem as primeiras desilusões, as amizades não correspondidas, os sonhos frustrados, as primeiras experiências mais profundas no campo sentimental. De modo particular, cada um reage de forma diferente aos mesmos aspectos do relacionamento com os outros: uns aceitam e resignam-se com os desejos não alcançados; outros, inconformados, reagem com irritação e violência e, por isso mesmo, sofrem mais. E o sofrimento é maior porque é necessário maior peso para dobrar a inflexibilidade do coração mais endurecido, como ensina a lei física aplicada à nossa rigidez de emperramento. Os mais dóceis e flexíveis sofrem menos, porque menor é a carga que lhes atinge o íntimo. Esses não oferecem restência ao que não pode possuir.

A resignação é o meio de modelação da nossa alma, característica do desprendimento e da mansuetude que precisamos cultivar.

Inúmeros aspectos desconhecidos da nossa personalidade abrem-se para a nossa consciência exatamente quando conseguimos identificar, nos entrechoques sociais, aquilo que nos atinge emocionalmente.

As reações observadas nos outros que mais nos incomodam são precisamente aquelas que estão mais profundamente marcadas dentro de nós. As explosões de gênio, os repentes que facilmente notamos nos outros e comentamos atribuindo-lhes razões particulares, espelham a nossa própria maneira de ser, inconscientemente atribuída a outrem e dificilmente aceita como nossa. É o mecanismo de projeção que se manifesta psicologicamente. 

Poucas vezes entendemos claramente as manifestações de nossos sentimentos em situações específicas, principalmente quando alguém nos critica ou comenta nossos defeitos. Normalmente reagimos: não aceitamos esses defeitos e procuramos justifica-los. Nesse momento passam a funcionar os nossos mecanismos de defesa, naturais e presentes que qualquer criatura.

No convívio com o próximo, desde a nossa infância, no lar, na escola, no trabalho, agimos e reagimos emocionalmente, atingindo os domínios dos outros e sendo atingidos nos nossos. Vamos, assim, nos aperfeiçoando, arredondando as facetas pontiagudas do nosso ser ainda embrutecido, à semelhança das pedras rudes colocadas num grande tambor que, ao girar continuamente, as modela em esferas polidas pela ação do atrito de para a parte.

É interessante notar que as pedras de constituição menos dura modelam-se mais rapidamente, enquanto aquelas de maior dureza sofrem, no mesmo espaço de tempo, menor desgaste, demorando mais, portanto, para perderem a sua forma original bruta.

Esse aperfeiçoamento progressivo, no entanto, vem se realizando lentamente nas múltiplas existências corpóreas como processo de melhoramento contínuo da humanidade.

As vidas corpóreas constituem-se, para o espírito imortal, no campo experimental, no laboratório de testes onde os resultados das experiência se vão acumulando.

 “A cada nova existência, o espírito dá um passo na senda do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não precisa mais das provas da vida corpórea.”( Allan Kardec O Livro dos Espíritos cap IV Pluralidade das Existências pergunta 168)


Instruirmo-nos através das lutas e tribulações da vida corporal é a condição natural que a Justiça Divina a todos impõe, para que obtenhamos os méritos, com esforço próprio, no trabalho, no convívio com o próximo.

O conhecer-se implica em tomarmos consciência de nossa destinação como participantes na obra da Criação. Dela somos parte e nela agimos sendo solicitados a colaborar na sua evolução global; Deus assim legislou.

O limitado alcance de nossa percepção e de nossa vivência em profundidade, no íntimo do nosso espírito, dessa condição de co-participantes da Criação Universal é decorrente de nossa mínima sensibilidade espiritual, o que só podemos ampliar através das conquistas realizadas nas sucessivas reencarnações.

Parece claro que caminhamos ainda hoje aos tropeços, caindo aqui, levantando acolá, nos meandros sinuosos da estrada evolutiva que ainda não delineamos firmemente. Constantemente alteramos os rumos que poderiam nos levar as correções, por isso retardamos os passos e repetimos experiências até que delas colhamos bons resultados, para daí avançarmos.

O conhecer-se é o próprio processe de autoconscientização, de reconhecimento de nossas limitações e dos perigos a que estamos sujeitos no campo das experiências corpóreas. É ponderar sempre, é refletir sobre os riscos que podem comprometer a nossa caminhada ascensional e tomar decisões, definir rumos, dar testemunhos.

É precisamente no convívio com o próximo que expressamos a nossa condição real, como ainda estamos – não o que somos, pois entendemos que, embora ainda ignorantes e perfeitos, somos obra da Criação e contamos com todas as potencialidades para chegarmos a ser perfeitos. Estamos todos em condições de evoluir. Basta querermos e dirigirmos nossos esforços para esse mister.

Uma das melhores diretrizes para chegarmos a isso é oferecida pelo educador Allan Kardec ( O Evangelho Segundo o Espiritismo cap XVII Sedes perfeitos – o Dever):


 “O dever começa precisamente no momento em que ameaçais a felicidade e a tranquilidade do vosso próximo, e termina no limite que quereríeis alcançar par vós mesmos”.


Extraído do Livro Manual Prático do Espírita – Ney Pietro Peres

terça-feira, 6 de março de 2018

AS BASES DO TRANSFORMAR-SE - COMO CONHECER-SE




“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelo esforço que empreende no domínio das más inclinações.” ( Allan Kardec. E Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap XVII. Sede Perfeitos. Os Bons Espiritistas.)

A disposição de conhecer-se a si mesmo pode surgir naturalmente como fruto do amadurecimento de cada um, de forma espontânea, nata, resultante da própria condição espiritual do indivíduo, ou poderá ser provocada pela ação do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura, desperta-a para valores novos do espírito. Uns chegam pela compreensão natural, outros, pela dor, que também é um meio de despertar a nossa compreensão.

Um grande número de indivíduos são levados, devido a desequilíbrios emocionais, a gabinetes psiquiátricos ou psicoterápicos para tratamentos específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer as origens de seus distúrbios, aprendendo a identifica-los e a controla-los, normalizando, até certo ponto,  a sua conduta. Porém, isso ocorre dentro de uma motivação de comportamento compatível com os padrões de algumas escolas psicológicas, quase todas materialistas.

Na Doutrina Espírita, como Cristianismo Redevivo, igualmente buscamos o conhecimento de nós mesmos, embora dentro de um sentido muito mais amplo, segundo o qual entendemos que a fração eterna e indissolúvel de nosso ser só caminha efetivamente na sua direção evolutiva quando pautando-se nos ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com a realidade espiritual nos dois planos da nossa existência. É preciso, então, despertar em nós a necessidade de conhecer o nosso íntimo, objetivando nosso transformação dentro do sentido cristão original, ensinado e exemplificado pelo Divino Mestre Jesus.

Conhecer exclusivamente as causas e as origens de nossos traumas e recalques, de nossas distonias emocionais nos quadros da presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos, olvidando a realidade das nossas existência anteriores, os delitos transgressores do ontem, que nos vinculam aos processos reequilibradores e aos reencontros conciliatórios do hoje.

As motivações que nos induzem a desenvolver nossa remodelação de comportamento projetam-se igualmente para o futuro da nossa eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são exatamente aqueles obtidos nas conquistas nobilitantes do coração.

Percebendo o passado longínquo de erros, trabalhamos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave e edificante. Esse é o amplo contexto da nossa realidade espiritual, à qual almejamos nos integrar atuantes e produtivos.

O emérito professor Allan Kardec, em sua obra O Céu e o Inferno 1 parte, cap VII, mostra, nos itens 16. Do Código Penal da Vida Futura, que no caminho para a regeneração não basta ao homem o arrependimento. São necessárias a expiação e a reparação, afirmando que “A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o  mal”, e também “praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido orgulhosos, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta, benigno se perverso, laborioso se ocioso, útil se foi inútil, frugal se intemperante, exemplar se não o foi”.

Como podemos nos reabilitar, entro dessa visão panorâmica da nossa realidade espiritual, infinitamente ampla, é o que pretendemos, à luz do Espiritismo, abordar neste trabalho de aplicação prática.

Reabilitar-se exige modificar-se, transformar o comportamento, a maneira de ser, de agir; é reformar-se moralmente, começando pelo conhecimento de si mesmo.

Múltiplas são as formas pelas quais vamos conhecendo a nós mesmos, nossas reações, nosso temperamento, o que imprime as nossas ações ao meio em que vivemos aquilo que é a maneira como respondemos emocionalmente, como reagimos aos inúmeros impulsos externos nos relacionamento social.

Podemos concluir que a nossa existência é todo um processo contínuo de reformulação de nossos próprios sentimentos de nossa compreensão dos porquês, com eles surgem e nos levam a agir.
Quando não procuramos deliberadamente nos conhecer, alargando os campos da nossa consciência, dirigindo-a rumo ao nosso eu, buscando identificar o porquê e a causa de tantas reações desconhecidas, somos igualmente levados a nos conhecer, exatamente nos entrechoques com aqueles do  nosso convívio, no seio familiar, no meio social, nos clubes recreativos, nos meios religiosos, enfim, em tudo o que compreende os contatos de pessoa a pessoa.

Nos capítulos seguintes (deste livro) veremos “o conhecer-se no convívio com o próximo”, “o conhecer-se pela dor”, “o conhecer-se pela auto-análise” e alguns meios práticos para realizarmos individualmente e em grupos a transformação que se inicia com a prática do conhecimento de nós mesmos.

Extraído do Livro Manual Prático do Espírita – Ney Pietro Peres

AS BASES DO TRANSFORMAR-SE - O CONHECIMENTO DE SI MESMO




“Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal? Um sábio da antiguidade vos disse: ‘CONHECE-TE A TI MESMO’”.
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Pergunta 919.)


De modo geral, vivemos todos em função dos impulsos inconscientes que se agitam no nosso mundo interior. Manifestamos, sem controle e sem conhecimento próprio, nossos desejos mais recônditos, ignorando suas raízes e origens.

O campo íntimo, onde os desejos são despertados nas mais variadas formas, encontra-se ainda muito vedado diante de um olhar mais profundo.

Refletimos inconscientemente um sem números de emoções, pensamentos, atrações, repulsas, simpatias, antipatias, aspirações e repressões. Somos um complexo indefinido de sentimentos e ideias que, na maioria das vezes, brotam dentro de nós sem sabermos como e por quê.

Somos todos vítimas dos nossos próprios desejos mal conduzidos. Se sentimos dentro de nós uma atração forte e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito de adquirir ou de concretizar aquela aspiração. Sentimos como se fôssemos donos do que queremos, desrespeitando os direitos do próximo. Querendo e isso basta, custe o que custar contrariando ou não a liberdade dos outros. O nosso desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de reagirmos internamente. 

Agindo desse modo, interferimos na vontade dos que nos cercam e contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles que não se subordinam aos nossos caprichos. Provocamos reações, violências de parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos, ansiedade, tormentos, mal-estares, infelicidades.

Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber nossos próprios erros, tão ou mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre justificadas por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos sempre como vítimas. Os outros nos causam contrariedade e desrespeitos, somos isentos de culpa a apenas defendemos nossos direitos e nossa integridade próprio.

Esse comportamento é típico nos seres humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos, dadas reações e manifestações que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma.

A grande maioria das criaturas humanas ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para dela abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais elementares, com predominância dadas funções animais, como reprodução, conservação, defesa. Dentro dessa maioria, compreendemos claramente como hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a agressividade, que, no ser racional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas animais nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúmes, vingança, ódio, luxuria, violência. Podemos dizer que há, nesses tipos de indivíduos, a predominância da natureza animal, orgânica ou corpórea.

Uma pequena minoria da humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal reflete um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades já denotam aspirações do sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e, assim, libertar-se dos defeitos derivados do egoísmo.

Estamos todos, possivelmente, numa categoria intermediária, numa fase de transição de espíritos imperfeitos para espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos do primeiro, ora buscamos alimentar o nosso espírito nas realizações do coração, na caridade, na solidariedade, no esforço de auto-aprimoramento. Vamos, assim, de modo lento, nas múltiplas existências, realizando o nosso progresso individual, elevando-nos na escala que vai o ser animal ao ser espiritual. Alicerçando interiormente os valores morais.


Na resposta à pergunta 919-a feita por Kardec aos Espíritos ( O Livro dos Espíritos. Livro terceiro, cap XII. Da Perfeição Moral.), Santo Agostinho afirma: “O Conhecimento de Si Mesmo é, portanto, a chave do progresso individual”.


Todo esforço individual no sentido de melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal só pode ser realizado  conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se claramente os impulsos íntimos e optando-se por disposições que nos levam à mudanças de comportamento. Desse modo, “conhecer-se a si mesmo” é a condição à predominância da natureza comporia.

E por quais razões o conhecimento próprio é o meio prático mais eficaz? Na Grécia, 400 anos antes de Cristo, Sócrates já assim ensinava. Essa sabedoria milenar ainda hoje é sobretudo evidente, e constitui o meio para evoluirmos. Não é compreensível que aos nos conhecermos estaremos a um passo de melhorar? Não se torna mais fácil, sabendo os perigos a que estamos sujeitos afastamo-nos deles e evita-los?

Extraído do Livro Manual Prático do Espírita – Ney Pietro Peres


ANTE O DIVÓRCIO - EMMANUEL

 Equilíbrio e respeito mútuo são as bases do trabalho de quantos se  propõem garantir a felicidade conjulgal, de vez que, repitamos, o lar ...