“Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal? Um sábio da antiguidade vos disse: ‘CONHECE-TE A TI MESMO’”.(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Pergunta 919.)
De modo geral, vivemos todos em função dos impulsos inconscientes que se agitam no nosso mundo interior. Manifestamos, sem controle e sem conhecimento próprio, nossos desejos mais recônditos, ignorando suas raízes e origens.
O campo íntimo, onde os desejos são despertados nas mais variadas formas, encontra-se ainda muito vedado diante de um olhar mais profundo.
Refletimos inconscientemente um sem números de emoções, pensamentos, atrações, repulsas, simpatias, antipatias, aspirações e repressões. Somos um complexo indefinido de sentimentos e ideias que, na maioria das vezes, brotam dentro de nós sem sabermos como e por quê.
Somos todos vítimas dos nossos próprios desejos mal conduzidos. Se sentimos dentro de nós uma atração forte e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito de adquirir ou de concretizar aquela aspiração. Sentimos como se fôssemos donos do que queremos, desrespeitando os direitos do próximo. Querendo e isso basta, custe o que custar contrariando ou não a liberdade dos outros. O nosso desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de reagirmos internamente.
Agindo desse modo, interferimos na vontade dos que nos cercam e contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles que não se subordinam aos nossos caprichos. Provocamos reações, violências de parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos, ansiedade, tormentos, mal-estares, infelicidades.
Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber nossos próprios erros, tão ou mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre justificadas por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos sempre como vítimas. Os outros nos causam contrariedade e desrespeitos, somos isentos de culpa a apenas defendemos nossos direitos e nossa integridade próprio.
Esse comportamento é típico nos seres humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos, dadas reações e manifestações que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma.
A grande maioria das criaturas humanas ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para dela abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais elementares, com predominância dadas funções animais, como reprodução, conservação, defesa. Dentro dessa maioria, compreendemos claramente como hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a agressividade, que, no ser racional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas animais nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúmes, vingança, ódio, luxuria, violência. Podemos dizer que há, nesses tipos de indivíduos, a predominância da natureza animal, orgânica ou corpórea.
Uma pequena minoria da humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal reflete um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades já denotam aspirações do sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e, assim, libertar-se dos defeitos derivados do egoísmo.
Estamos todos, possivelmente, numa categoria intermediária, numa fase de transição de espíritos imperfeitos para espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos do primeiro, ora buscamos alimentar o nosso espírito nas realizações do coração, na caridade, na solidariedade, no esforço de auto-aprimoramento. Vamos, assim, de modo lento, nas múltiplas existências, realizando o nosso progresso individual, elevando-nos na escala que vai o ser animal ao ser espiritual. Alicerçando interiormente os valores morais.
Na resposta à pergunta 919-a feita por Kardec aos Espíritos ( O Livro dos Espíritos. Livro terceiro, cap XII. Da Perfeição Moral.), Santo Agostinho afirma: “O Conhecimento de Si Mesmo é, portanto, a chave do progresso individual”.
Todo esforço individual no sentido de melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal só pode ser realizado conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se claramente os impulsos íntimos e optando-se por disposições que nos levam à mudanças de comportamento. Desse modo, “conhecer-se a si mesmo” é a condição à predominância da natureza comporia.
E por quais razões o conhecimento próprio é o meio prático mais eficaz? Na Grécia, 400 anos antes de Cristo, Sócrates já assim ensinava. Essa sabedoria milenar ainda hoje é sobretudo evidente, e constitui o meio para evoluirmos. Não é compreensível que aos nos conhecermos estaremos a um passo de melhorar? Não se torna mais fácil, sabendo os perigos a que estamos sujeitos afastamo-nos deles e evita-los?
Extraído do Livro Manual Prático do Espírita – Ney Pietro Peres
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