domingo, 11 de março de 2018

AS BASES DO TRANSFORMAR-SE - CONHECER-SE NO CONVÍVIO COM O PRÓXIMO






“Amar ao próximo como a si mesmo, fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, é a mais  completa expressão da caridade, pois que resume todos os deveres para com o próximo”( Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo cap XI amar aos próximo como a si mesmo)


No relacionamento entre os seres humanos, as experiências vividas ensinam constantemente lições sociais, através de nossas reações com o meio e das manifestações que o meio nos provoca.

O campo das relações humanas, já pesquisado amplamente, talvez seja a área de experiências mais significativa para a evolução moral do homem.

O tempo vai realizando progressivamente o amadurecimento de cada criatura, na medida em que aprendemos, no convívio com o próximo, a identificar nossas reações de comportamento e a discipliná-las.

O relacionamento mais direto acha-se o meio familiar, onde desde criança brotam espontaneamente nossos impulsos e reações. Nessa fase gravam-se impressões em nosso campo emocional que repercutirão durante toda nossa existência. Quantos quadros ficam plasmados na alma sensível de uma criança. Quadros esses que podem levá-la a inconformações, angústias profundas, desejos recalcados, traumas, caracterizando comportamentos e disposições na fase da adolescência e na adulta.

Guardamos do relacionamento com os pais, irmãos, tios, primos e avós, os reflexos que mais nos marcaram.

Começamos, então, numa busca tranquila, a conhecer como reagimos e por que reagimos, na infância e na adolescência, aos apelos agressões, contendas, choques de interesses. Essas reações emocionais, que normalmente não se registram com clareza nos níveis da consciência, deixam, entretanto, suas marcas indeléveis nas profundidades do inconsciente.

Importantes são as suaves e doces experiências daqueles primeiros períodos da nossa vida, quando os corações amorosos de uma mãe, de um pai, de um irmão, de uma professora, pelas expressões de carinho e de compreensão, aquecem nossa alma em formação e nela gravam o conforto emocional que tantos benefícios nos fizeram, predispondo-nos às coisas boas, às expressões de amor, que, por termos conhecido e recebido, aprendemos a dar e a proporcionar aos outros. Essas ternas experiências constituem necessários pontos de apoio ao nosso espírito, para que possamos prosseguir e ampliar nossas obras nas expressões do coração.

No convívio escolar, iniciamos as primeiras experiências como o meio social fora dos limites familiares. As reações já não são tão espontâneas. Retraímo-nos às vezes; a timidez e o acanhamento refletem de início a falta de confiança nas professoras e nos colegas de turma. Aprendemos paulatinamente a nos comportar na sociedade, com reservas. Sufocamos, por vezes, desejos e expressões interiores, e até mesmo defendemos com violência nossos interesses, mesmo que ainda infantis. E também brigamos com aqueles que caçoam de alguma particularidade nossa. Quase sempre retribuímos com bondade aos que são bondosos conosco. E devolvemos insultos aos que nos agridem. Sem dúvida são reações naturais, embora ainda bem primárias.

Vamos assim caminhando para a adolescência, fase em que nossos desejos se acentuam. O querer começa a surgir, a auto-afirmação emerge naturalmente, a nossa personalidade se configura. Aparecem as primeiras desilusões, as amizades não correspondidas, os sonhos frustrados, as primeiras experiências mais profundas no campo sentimental. De modo particular, cada um reage de forma diferente aos mesmos aspectos do relacionamento com os outros: uns aceitam e resignam-se com os desejos não alcançados; outros, inconformados, reagem com irritação e violência e, por isso mesmo, sofrem mais. E o sofrimento é maior porque é necessário maior peso para dobrar a inflexibilidade do coração mais endurecido, como ensina a lei física aplicada à nossa rigidez de emperramento. Os mais dóceis e flexíveis sofrem menos, porque menor é a carga que lhes atinge o íntimo. Esses não oferecem restência ao que não pode possuir.

A resignação é o meio de modelação da nossa alma, característica do desprendimento e da mansuetude que precisamos cultivar.

Inúmeros aspectos desconhecidos da nossa personalidade abrem-se para a nossa consciência exatamente quando conseguimos identificar, nos entrechoques sociais, aquilo que nos atinge emocionalmente.

As reações observadas nos outros que mais nos incomodam são precisamente aquelas que estão mais profundamente marcadas dentro de nós. As explosões de gênio, os repentes que facilmente notamos nos outros e comentamos atribuindo-lhes razões particulares, espelham a nossa própria maneira de ser, inconscientemente atribuída a outrem e dificilmente aceita como nossa. É o mecanismo de projeção que se manifesta psicologicamente. 

Poucas vezes entendemos claramente as manifestações de nossos sentimentos em situações específicas, principalmente quando alguém nos critica ou comenta nossos defeitos. Normalmente reagimos: não aceitamos esses defeitos e procuramos justifica-los. Nesse momento passam a funcionar os nossos mecanismos de defesa, naturais e presentes que qualquer criatura.

No convívio com o próximo, desde a nossa infância, no lar, na escola, no trabalho, agimos e reagimos emocionalmente, atingindo os domínios dos outros e sendo atingidos nos nossos. Vamos, assim, nos aperfeiçoando, arredondando as facetas pontiagudas do nosso ser ainda embrutecido, à semelhança das pedras rudes colocadas num grande tambor que, ao girar continuamente, as modela em esferas polidas pela ação do atrito de para a parte.

É interessante notar que as pedras de constituição menos dura modelam-se mais rapidamente, enquanto aquelas de maior dureza sofrem, no mesmo espaço de tempo, menor desgaste, demorando mais, portanto, para perderem a sua forma original bruta.

Esse aperfeiçoamento progressivo, no entanto, vem se realizando lentamente nas múltiplas existências corpóreas como processo de melhoramento contínuo da humanidade.

As vidas corpóreas constituem-se, para o espírito imortal, no campo experimental, no laboratório de testes onde os resultados das experiência se vão acumulando.

 “A cada nova existência, o espírito dá um passo na senda do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não precisa mais das provas da vida corpórea.”( Allan Kardec O Livro dos Espíritos cap IV Pluralidade das Existências pergunta 168)


Instruirmo-nos através das lutas e tribulações da vida corporal é a condição natural que a Justiça Divina a todos impõe, para que obtenhamos os méritos, com esforço próprio, no trabalho, no convívio com o próximo.

O conhecer-se implica em tomarmos consciência de nossa destinação como participantes na obra da Criação. Dela somos parte e nela agimos sendo solicitados a colaborar na sua evolução global; Deus assim legislou.

O limitado alcance de nossa percepção e de nossa vivência em profundidade, no íntimo do nosso espírito, dessa condição de co-participantes da Criação Universal é decorrente de nossa mínima sensibilidade espiritual, o que só podemos ampliar através das conquistas realizadas nas sucessivas reencarnações.

Parece claro que caminhamos ainda hoje aos tropeços, caindo aqui, levantando acolá, nos meandros sinuosos da estrada evolutiva que ainda não delineamos firmemente. Constantemente alteramos os rumos que poderiam nos levar as correções, por isso retardamos os passos e repetimos experiências até que delas colhamos bons resultados, para daí avançarmos.

O conhecer-se é o próprio processe de autoconscientização, de reconhecimento de nossas limitações e dos perigos a que estamos sujeitos no campo das experiências corpóreas. É ponderar sempre, é refletir sobre os riscos que podem comprometer a nossa caminhada ascensional e tomar decisões, definir rumos, dar testemunhos.

É precisamente no convívio com o próximo que expressamos a nossa condição real, como ainda estamos – não o que somos, pois entendemos que, embora ainda ignorantes e perfeitos, somos obra da Criação e contamos com todas as potencialidades para chegarmos a ser perfeitos. Estamos todos em condições de evoluir. Basta querermos e dirigirmos nossos esforços para esse mister.

Uma das melhores diretrizes para chegarmos a isso é oferecida pelo educador Allan Kardec ( O Evangelho Segundo o Espiritismo cap XVII Sedes perfeitos – o Dever):


 “O dever começa precisamente no momento em que ameaçais a felicidade e a tranquilidade do vosso próximo, e termina no limite que quereríeis alcançar par vós mesmos”.


Extraído do Livro Manual Prático do Espírita – Ney Pietro Peres

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