Os prejuízos da atitude egoísta foram muitos. É só olhar os males do que ocêis chamam de "civilização".
Os índios não enfrentam isso. Não porque são "atrasados" (como muitos dizem), mas porque não perderam o contato com a verdadeira natureza da vida, não como ocêis perderam.
A escala dos valores é outra pra eles. E eles são livres no mundo deles, que é a grande Criação Perfeita do Cosmo, enquanto que aqueles que pensavam poder deixar a espiritualidade de fora, o que fizeram mesmo foi se trancar numa prisão: a prisão da vida só material.
Ocêis que, por um lado, se acham donos do mundo, por outro, também se sentem presos. Limitados. Alguma coisa falta na vida docêis, que não sabem o que é.
Eu vou dizer o que é: falta vida!! Vida verdadeira, não corrida por dinheiro, corrida por afeto, corrida por poder, que é o que a vida docêis virou quando perdeu o contato com o espiritual.
Ocêis que fizeram essa escolha eram livres pra fazer, e os Espíritos não podiam se intrometer sem agir contra a Lei.
E os Espíritos entenderam que só podiam aguardar um outro tempo, onde suas palavras fossem mais bem-vindas.
Quando a prisão ficou insuportável, teve aqueles que se acomodaram e tentaram viver nos limites dela, achando que a prisão era toda a verdade que existe. Mas teve aqueles que tentaram sair de qualquer jeito, sair pela porta dos fundos, pelo túnel escavado no chão, pelo vão da grade, sair pela via das drogas, das bebedeiras, do sexo compulsivo...
Só que, se ninguém precisa ficar preso, ninguém precisa fugir como um bandido! Porque a chave da porta está aqui:
a vida sempre foi espiritual e material e só você pode juntar as duas dentro do seu coração e das suas ações, do seu entendimento e da sua fé. A prisão tá na sua forma de entender as coisas, e você pode modificar isso, abrindo a porta, juntando as duas e saindo pra respirar o ar da liberdade.
Quando nós ensinamos os homens a ampliar a consciência usando métodos diversos, era para o encontro com a verdade, a verdade de si mesmos e a verdade da Criação, já que as duas são a mesma coisa. Quem sabia, e realmente queria, teve esse encontro com as mais profundas realidades. E muito do que ocêis estudam hoje como revelações dos chamados "grandes mestres" veio desses estados.
Mas quando seu propósito é o de fugir, fugir da realidade, fugir de si mesmo, sem reconhecimento do lado espiritual, aí não tem aprendizado, só alienação. Essa procura é grande, veja a estatística do consumo de todo tipo de droga e de compulsão.
E isso é fácil de entender:
quando uma alma resolve que é tempo de fazer um esforço consciente de evolução, aqueles mais adiantados vêem em seu auxílio, eles são muitos e já estão nessa corrente que se ajuda reciprocamente a caminhar. Então, o esforço do aprendiz é contemplado com a presença do mestre.
Quando, porém, o ser procura somente as fugas, ele só fica perdido em si mesmo, cuidado como um doente mental no hospital do Universo. Um estado temporário que depende exclusivamente de cada um querer sair.
Taí, a civilização e suas mazelas... Tá certo: ocêis tavam experimentando os benefícios do progresso intelectual. Agora, conhecem os males do progresso intelectual sem o contraponto da moral.
E só o conhecimento espiritual dá base firme pra moral, pra escolha dos comportamentos melhores. Então tá na hora de entender que os dois - moral e intelectual - precisam andar juntos, como as duas asas da figura proposta por Emmanuel, pra que se possa realmente sair da gaiola e alçar grandes vôos.
Agora, ocêis já podem reconhecer que têm o que aprender também com os índios e que eles vão ensinar ocêis com todo o amor que já tá na alma deles. Eles sempre viveram essas duas vidas, a espiritual e a material, como se fosse um só, o que ocêis a maior parte das vezes não sabem fazer.
Se ocêis caminharam muito na intelectualidade, são ainda tão crianças na compreensão das grandes verdades! Mas não precisam continuar vivendo uma vida parcial, numa compreensão somente parcial de si mesmos. Então, tá na hora de se por um pouco mais humildes e, sem abandonar o que já conhecem, perceber o muito que ainda falta aprender, com os simples e sábios.
Tá aí também uma grande lição, ocêis já queriam ser alunos diretos de um grande mestre, de um Buda, de um Krishna, de um Jesus? Num é bem assim, não. Primeiro têm de aprender a lição dos índios, daqueles que ocêis desprezaram e chamaram de ignorantes. Eis porque em muitos casos as pessoas estão se voltando para os xamãs, redescobrindo a conexão consigo mesmos e com o Universo pelas danças e o uso das ervas. Se esse é o caminho que se mostra para você, não resista, resistência é orgulho. O xamanismo pode ser um caminho de grande aprendizado e o proveito vai depender do caminhante.
Calunga - Rita Foelker