domingo, 31 de março de 2019

JESUS E O SENTIDO DA VIDA



Nas palavras ditas por Jesus e escritas por alguns de seus discípulos e seguidores, em seu conjunto (O Evangelho) pode ser encontrado um resumo do sentido da vida. Selecionei algumas, cujo sentido mais profundo poderá nos levar à compreensão de nós mesmos e do destino humano. O tempo pode ter alterado o sentido originalmente atribuído pelo autor, mas a percepção atual, pelo coração, não dogmática, poderá nos trazer alguma luz transcendente.

Escolho as palavras de Jesus pela minha condição de cristão, mas creio que o mesmo sentido pode ser encontrado no seio de toda e qualquer religião. Aquele sentido não é patrimônio de ninguém, tampouco de uma única religião ou filosofia.

Jesus, como outros, encarnou o arquétipo do Si-Mesmo. Serviu, através de seus feitos e conceitos emitidos, como elemento de projeção deste arquétipo. Em cada um de nós existe uma Imago Dei, isto é, uma representação de Deus, esculpida por Ele mesmo em nossa psique,nas camadas mais profundas da alma humana, desde a nossa origem divina. Jesus conseguiu se aproximar daquela Imago Dei, contribuindo para uma percepção mais precisa de Deus em nós. Jesus era o peixe; a cruz, o anzol, simbolizando algo que era içado do inconsciente humano para o despertar de cada um.

A análise que presentemente faço tem uma base psicológica pessoal, muito embora me aproprie dos conceitos junguianos, o que não pretende anular outras interpretações cabíveis aos textos evangélicos. Por detrás das palavras proferidas existiram ideias e sentimentos, imagens e experiências. Difícil é trazer para a atualidade o que de fato significaram. Razão pela qual não tenho a pretensão de fazê-lo. Prefiro, por este motivo, apresentar algo que possa ser compreendido de forma contextualizada e busque o significado da vida.

No capítulo 6, versículos 19 a 21, do evangelho de Mateus, consta o seguinte:
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

Está claro que a colocação acima pretende levar as pessoas à continuidade de uma conduta assertiva na vida, visando à realização de algo diferente de que fizer antes. Ser assertivo é ser afirmativo e determinado na vida. A conduta proposta não contempla uma vida medíocre ou recolhida, mas cheia de realizações e preenchida de experiências significativas. Tais experiências devem levar ao ajuntamento de tesouros, cujo conteúdo não possam ser destruídos. Não há qualquer recomendação à vida contemplativa ou acomodada, mas dinâmica e operosa. Ao surgir ajuntar tesouros que não possam ser corroídos ou roubados, talvez quisesse assinalar algo que não sofresse o desgaste do tempo, portanto algo que estivesse adequadamente abrigado. Talvez o mundo interno seja colocado como o terreno no qual o tesouro deva ser acumulado, pois lá dentro, na profundidade da alma, não seja possível a corrosão nem o roubo. A menção do coração como estando junto ao tesouro caracteriza sua essência.

O tesouro está ligado às coisas do coração, isto é, ao mundo emocional de cada pessoa. Talvez a mensagem embutida da respeito à influência das emoções e sentimentos na felicidade da pessoa. A aquisição verdadeira é aquela que se dá com o coração, pois todas as experiências da vida estão conectadas pelos fios invisíveis do amor. Nesse aspecto, o sentido da vida e da consciência superior. Ele representa o que existe de mais transcendente na alma humana. Cuidar dele e entender que as coisas devem guardar estreita relação com seu simbolismo significa aproveitar melhor as experiência da vida.

Jesus é útil como figura de projeção nas fases iniciais do processo de desenvolvimento da personalidade e da percepção do Si-Mesmo para o cristão. Cristalizar uma atitude devocional, sempre submissa, não percebendo em si as qualidades nele projetadas, internalizando-as a partir das experiências da vida, é paralisar o processo evolutivo da própria pessoa. Em algum momento de sua vida, o cristão, ou qualquer devoto de uma religião, deverá encontrar em si as qualidades atribuídas ou inconscientemente projetadas em seu líder espiritual ou no deus em que acredita. Assim, as figuras que antes serviram de projeção do Si-Mesmo ou do sagrado, suscitarão novas possibilidades simbólicas, não mais eliciarão o que antes evocavam na pessoa.

Podemos entender que o significado da vida e o destino humano estão visceralmente conectados ao aproveitamento emocional das experiências vividas.

Em Mateus 6.33 consta uma atitude inicial a se tomada na vida, a seguinte recomendação:

“Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.”
O reino e a sua justiça são símbolos que merecem interpretação. O reino é o lugar onde todos vivem sob a proteção e a segurança de um sistema coletivo eficiente. Tudo que ali acontece é conhecido e obedece a normas previamente acordadas. Os cidadãos do reino obedecem a princípios e existe uma figura que representa tudo e todos: o rei. O reino, portanto, é um lugar seguro e sagrado. A justiça é o equilíbrio de um sistema, trazendo a igualdade e o direito de todos. Ela zela pelo bem comum e permite a tranquilidade quanto às conquistas de cada pessoa. Por todos estes argumentos podemos entender que o reino e sua justiça são símbolos do Self, pois representam o que há de mais próximo ao arquétipo da totalidade na psiquê humana.
A primazia do espiritual sobre o material decorre da necessidade de se construir uma personalidade apta a usufruir do mundo em proveito de sua evolução espiritual. As experiências no mundo seriam melhor aproveitadas se a pessoa detivesse preliminarmente uma visão do significado da vida e de sua condição como ser espiritual. Na maioria das pessoas ocorre o inverso, Primeiro busca-se o mundo, para depois entender-se a si mesmo. Isso significa construir algo, isto é, um sistema explicativo a respeito de si mesmo e da vida, na consciência, que necessariamente será descontruído mais adiante.

Essa colocação nos permite uma compreensão mais ampla da vida, considerando que o aprendizado das coisas do espírito são alicerces para a apreensão do significado do existir. A percepção da espiritualidade capacita o indivíduo a entender os mecanismos da Vida e a extrair, com mais proveito, das experiências que vive os paradigmas das leis de Deus.

No versículo transcrito não há uma negação das coisas materiais, mas uma ordenação de busca. Por coisas materiais, pode-se também entender o prazer e a felicidade que podem ser alcançados na vida material. A equivocada negação desta última decorre da pressa em enquadrar a frase num sistema que tenta substituir o material pelo espiritual, com a exclusão do primeiro em favor do segundo.

A não exclusão das experiências da vida material no desenvolvimento da personalidade e na evolução espiritual do indivíduo está contido no sentido da vida.

Ainda em Mateus, no capítulo 7, versículo 12, há outra colocação de Jesus, que merece análise, quanto ao significado da vida.

Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei, e os profetas.

O primeiro acima exposto é o da coerência lógica com o próprio desejo. Querer para o outro o que não quer para si, denuncia desigualdade. A frase trata do desejo interno de fazer as coisas. Querer algo vem do desejo e da vontade de atuar. Querer para o outro o que quer para si revela o princípio da igualdade. Esse princípio é um dos segredos da convivência humana, pois elimina a possibilidade do egoísmo e da sensação de superioridade sobre o outro.

Considerar a igualdade entre o querer para o outro e o querer para si como uma lei é estabelecer uma regra de conduta, porém é muito mais uma forma de ser do que de agir. É um ensinamento a ser vivido internamente, cujas consequências externas serão aquelas esperadas, isto é, o que se quer para si será automaticamente realizado para os outros. Antes da ação, deve vir à consciência o que se pretende, pois a transformação interna deve preceder à externa.

Pode-se pensar que o significado da vida contempla uma relação de afinidade entre os desejos no contato com o outro, isto é, a busca de um equilíbrio nas vontades em jogo. Parece-me que o conteúdo da mensagem se refere a um mecanismo automático e de equilíbrio interno. Não se trata de um conselho para a adoção de um comportamento, mas uma lembrança de que a psiquê humana é regulada por um mecanismo de equilíbrio dinâmico no desejo. Isso quer dizer que, quando se deseja ao outro algo que difere do que se deseja a si mesmo, dispara-se um mecanismo de auto-regulação psíquica. O sistema psíquico apresentará situações externas onde o equilíbrio será requisitado.

A citação de Mateus deve nos levar à consciência de que nosso desejo deve estar em consonância com o desejo do outro, a fim de que o equilíbrio ocorra. Nossa vida poderá passar por uma série de desvios quando não compatibilizamos o que desejamos para o outro com o que queremos para nós próprios.

No Evangelho de Marcos, no capitulo 8, versículo de 35 a 37, consta o seguinte:

Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á. Que aproveita o homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma?

Neste trecho observa-se a dialética entre salvar ou perder a “vida”. Antes de uma interpretação é preciso considerar o significado de vida e o que quer dizer salvar e perder. Aparentemente vida é colocada como existência no corpo, porém, olhando mais detidamente, percebe-se que se trata de significado ou sentido de viver. Da mesma forma, salvar ou perder não parece ter o sentido de algo irreversível, mas de aproveitamento ou não da vida no corpo ou de um período determinado do existir.

Isso quer dizer que existe uma melhor forma de aproveitar as experiências da vida, que está associada a seguir os ensinamentos de Jesus e do Evangelho. Neste sentido, Jesus significa uma causa, isto é, uma ideia diretora da vida, que se identifica com a mensagem do Evangelho. Isso não quer dizer que se trata de se tornar um simples seguidor ou adorador de um mestre divino. Que causa é aquela? Essa causa, ou paradigma, quando compreendida e adequadamente vivida, proporciona um melhor aproveitamento da existência no corpo. Osso reforça a ideia de que a vida no corpo físico é uma continuidade da vida fora dele. Não são dimensões opostas, mas complementares, contínuas. Aquela causa está associada à consciência de si e à autotransformação necessária, de acordo com princípios apresentados na mensagem cristã.

A causa ou paradigma referido é uma apropriação do saber a respeito de como funciona o complexo sistema criado por Deus, que envolve os conceitos de vida, convivência e significado do existir. A citação do evangelista parece um convite à compreensão daquele sistema, a partir de um olhar diferente, perscrutando o Evangelho e extraindo dele o significado, para, em seguida, vivenciá-lo.

Um outro par de opostos pode ser identificado na citação: mundo e alma. Que significa cada um deles? Eles são colocados entre ganhar e perder, porém não parecem contraditórios ou exclusivos. Estão aparentemente em oposição, pois se pode tê-los simultaneamente. O mundo simboliza a vida relacional, o externo e as aquisições pertinentes ao viver. A alma simboliza a natureza essencial, componente da personalidade de cada um.  Parece significar um conjunto de processos de origem interior que engloba: vontade, determinação e identidade pessoal. Talvez a mensagem queira dizer que é um desperdício ganhar o mundo sem acréscimo de algo à sua essência espiritual.

Este trecho do Evangelho nos convida à inserção, em nosso mito pessoal, de um novo olhar sobre a vida e seu significado, colocando a espiritualidade e a amorosidade na vida cotidiana.

Adiante, no evangelho de Lucas, capitulo 11, versículos 9 e 10, temos a seguinte citação:

Por isso vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscas, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca, encontra; e a quem bate abrir-se-lhe-á.

Esta frase também pode ser encontrada no evangelho de Mateus, confirmando que, por duas fontes distintas, as palavras foram realmente proferidas por Jesus. Talvez estas palavras seja aquelas que mais enfatizam o poder da mente humana e a presença divina na intimidade do espírito. Ocultamente, esta frase encerra a força do desejo e a capacidade do espírito em construir seu próprio destino. Pode-se dizer, por extensão, que o universo funciona e se move pelo desejo íntimo dos seres que o povoam.

Nossas atitudes, ideias, sentimentos, bem como os desejos conscientes, recebem contribuições de processos inconscientes que acabam por determinar o produto de nossas ações. A vida inconsciente que fervilha dentro do ser humano é muito maior e mais intensa do que a consciente.

Pedidos íntimos da infância, antigas fantasias não resolvidas desejos abrigados desse a adolescência, imaginações tomadas como realidade, bem como toda a gama de ideais, esquecidos ou não, fazem parte daqueles processos que influenciam decisivamente o destino pessoal. Pedir o obter não significa alcançar exatamente o que se pensou, mas o que resulta do pedido que move a intimidade da psiquê.Tal resultado sofre interferências externas e internas. As internas são aquelas citadas antes e as externas são do domínio extra-humano, isto é, do Divino.

Aqueles pedidos pueris e inconsequentes, baseados no egoísmo e no orgulho, não deixam e ter algum resultado. Podem, ou não, se alcançados. O sucesso dependerá da reação contrária que virá do sistema de desenvolvimento do espírito que pede. O seu sistema evolutivo está gravado em seu inconsciente. Obter algo, mesmo material ou absurdo, poderá ensejar aprendizado maior do que sua falta.

O pedido, portanto, passará por algum crivo, que servirá como filtro, deixando escoar o que estiver em conexão com o sistema divino de desenvolvimento do espírito.

Não é difícil entender que as palavras contidas no Evangelho, ou seja, a mensagem que Jesus quis passar podem ser encontradas em várias religiões e filosofias. Não é algo que se possa dizer totalmente singular em suas partes, porém assim se manifesta em seu conjunto, pois se mostra capaz de levar o ser humano a uma instância além de si mesmo. Tal instância não implica na supressão da realização na vida material, e sim em sua inclusão.

Adotar o Cristianismo parece ter sido uma forma de conciliar o interno com o externo. O interno atravessava a transição da subserviência a um deus punitivo pelos efeitos, para outro alertador quanto a eles. Enquanto religião, o Cristianismo ainda não foi capaz de tornar possível o surgimento, ao menos coletivamente, do ser humano feliz, saudável e livre.

Parece-me que, a partir dos trechos do Evangelho acima escolhidos, pode-se extrair algumas conclusões sobre o sentido e significado da vida. É óbvio que não se trata de uma conclusão extraída da totalidade das palavras de Jesus, mesmo assim poderá ser útil à compreensão dos conceitos aqui emitidos.

Resumo dos trechos escolhidos:
1-  Pensar com o coração, valorizando o papel dos sentimentos no desenvolvimento da personalidade;
2-  Apropriar-se do conhecimento espiritual sem esquecer o material;
3-  Igualdade, paria si e para o outro, nos direitos, como regra do sentir e do agir;
4-  Apreensão do significado da vida no corpo e fora dele;
5-  Responsabilidade pessoal pela construção do próprio destino.

A adoção de regras de conduta baseadas nas crenças cristãs, adulteradas no decorrer da história da humanidade, poderá ser tornar uma prisão à liberdade e ao crescimento do espírito. Tais regras podem ter sido responsáveis pelo enviesamento da vida, bem como pelo bloqueio ao crescimento espiritual do ser humano. A religião deve servir para libertar e sua busca deve ser baseada na felicidade e transcendência que proporciona.

Extraído do Livro Mito Pessoal e Destino Humano – Adenáuer Novas

SENTIDO DA VIDA



Acredito que a maioria das pessoas deseja obter uma resposta confortável e consistente a respeito do sentido da vida e da própria existência. A maioria vive alienada, sem consciência de si e sem uma compreensão ampla dos processos que atravessa. Muitos preferem moldar-se a um sistema provisório, tomando-o por definitivo, enquadrando o Universo e suas leis num pequeno punhado de fenômenos. Ainda não perceberam que a Vida se auto constrói e está em constante dinamismo e transformação. Neste processo de auto construir-se, o ser humano é simultaneamente agente e objeto. Ao mesmo tempo em que estamos sujeitos às leis universais, participamos também de sua elaboração. Isso pode parecer paradoxal ou presunçoso, mas é como percebo a singularidade humana. Não somos apenas os artífices do nosso destino, mas também colaboradores da forma como o Universo age sobre nós próprios. As leis, que nos pareciam imutáveis, são constituídas de acordo com a evolução do ser humano. A submissão do ser humano às leis do Universo contrasta com a sabedoria de Deus, pois seria mais coerente com a mesma pensar num sistema que s auto cria. O sentido da vida pode ser mais bem percebido na medida em que ampliamos nosso campo de experiências, de percepção e de compreensão a respeito do deus interno.

O sentido da vida parece ser algo singular, próprio, pessoal e intransferível. Contrariando a tendência em se acreditar num sentido único, coletivo e uniforme, a vida parece revelar sentidos diversos para cada ser humano.

O sentido da vida passa pela personalidade em seu momento evolutivo. Não se pode descobrir o sentido da própria vida sem se enxergar as experiências vividas, bem como aquelas que inevitavelmente terão que ser experienciadas.

O sentido da vida se modifica a cada fase. Geralmente as ideias a este respeito começam na adolescência, quando a pessoa pretende e necessita se situar no mundo. A depender da personalidade, o sentido encontrado poderá ser determinante para todas as outras fases da vida. Na idade adulta jovem, que se inicia logo após a adolescência, vários sentidos vão sendo perseguidos, principalmente aqueles de ordem mais prática e coletiva. À medida que os processos vividos vão se tornando mais complexos e mais intensos, notadamente após os trinta anos de idade, os sentidos encontrados nas fases anteriores se afunilam, sendo condensados em poucos ou num só. A partir da meia-idade, a procura de um sentido único para a própria vida se torna uma obrigação. A certeza da morte torna obrigatório o encontro de um sentido para a vida.

O sentido da vida é vivê-la, sentindo cada experiência como algo novo, surpreendente e capaz de promover um encontro do indivíduo com sua natureza essencial. Para isso é preciso entender que o futuro é um grande mistério, porém factível de ser parcialmente construído.

A palavra esperança é normalmente utilizada no sentido de acreditar num futuro melhor ou na postura interior de confiar que tudo acabará bem. Nem sempre os resultados que se espera alcançar corroboram esse significado. Talvez devêssemos criar outra palavra que se refira a um estado de equilíbrio diante das incertezas e possibilidades do destino pessoal. Ou então, esperança deva ser entendida como o encontro de um significado para cada momento que se vive. Ter esperança é encontrar um significado para o que se faz. Mesmo que as circunstâncias sejam adversas e nada saia como esperado, entrando-se um significado e um sentido para o momento que se vive, o equilíbrio ocorre. Esperança é encontrar o sentido do passado, do presente e do futuro. É ter consciência do que está fazendo, dando-lhe um sentido e, mesmo que não atinja os objetivos pretendidos, saber que valeu a pena ter vivido aquilo. A vida pede à consciência um significado, pois é ele que permite o equilíbrio psíquico.

Sempre considerei o destino algo mutável, como se o próprio Deus contemplasse a mutabilidade em seus desígnios, sem que isso afetasse Sua suprema inteligência e sapiência. Esta consideração permite que entendamos o sentido da vida como algo flexível, como tudo no Universo. Toda rigidez contrasta com a suprema sabedoria.

O grande vazio que o ser humano enfrenta é quando constata a ausência de um sentido para sua existência, mesmo que o tenha preenchido com coisas e pessoas. As experiências da vida devem estar conectadas entre si, mesmo que em blocos, para os quais se deve encontrar um ou mais sentidos.

Certa vez, no Centro Espírita, procurou-me uma mulher muito elegante. Parecia uma pessoa bem sucedida, com gestos finos e muito bem vestida. Seu porte indicava nobreza e equilíbrio. Disse-me que tinha cerca de quarenta anos, era casada – fez questão de dizer que se considerava bem casada – com um homem muito bom e provedor. Tivera três maravilhosos filhos, todos bem encaminhados, que não lhe deram o menor trabalho na criação. Ela tinha se formado em arquitetura e era bem sucedida em sua profissão. Seu marido era jornalista e muito conhecido. Sua casa era bem frequentada e tinha numerosos familiares queridos. Enquanto falava, seus olhos iam se enchendo de lágrimas. Sem conseguir conter o choro, parou sua narrativa e, para minha surpresa, disse: tenho tudo o que quero, recebi da Vida mais do que pedi, gozo de boa saúde, mas com tudo isso, não sou feliz. Terminou sua fala me perguntando: qual a causa disso? Olhei em seus olhos e falei que a crise que estava acontecendo dentro dela era sinal de que estava acordando de um sonho e que deveria agora procurar o sentido de sua vida. Falei-lhe da espiritualidade a ser buscada e da consciência de ser imortal, como novos paradigmas e serem internalizados. Desse dia em diante passou a dedicar-se ao estudo do Espiritismo. Como ela, muita gente está descobrindo a necessidade de encontrar um sentido transcendente para a própria vida. A moderna civilização, com seus desafios de adaptação impostos as ser humano, fazendo-o desenfreadamente buscar realizações no campo material, não tem sido capaz de apresentar propostas consistentes que evitem tais crises. Mesmo considerando os avanços da filosofia, da psicologia e da religião, o ser humano ainda continua perdido entre teorias confusas e incompletas. É preciso educar o ser humano para o seu destino e para o significado oculto da vida.

O sentido da vida é descobrir quem se é e, a partir daí, auto determinar-se sem os limites da ignorância a respeito de sua própria essência. Essa tarefa deve ser executada durante várias encarnações. Em uma só, salvo para quem já se encontra mais adiantado espiritualmente, é difícil alcançar a consci6encia de quem verdadeiramente se é. A realização de suas habilidades, tendências e a descoberta dos aspectos obscuros de sua própria personalidade devem ser os grandes desafios daqueles que levam a sério sua existência.

Enquanto não se alcança a consciência de quem se é, deve-se viver a vida aplicando-lhe sentidos provisórios. São sentidos provisórios: amar verdadeiramente alguém, trabalhar honestamente para o desenvolvimento da sociedade, constituir e manter harmonicamente uma família, contribuir para a disseminação de ideais nobres na sociedade, alcançar estabilidade emocional, ter equilíbrio financeiro adequado, auxiliar entes queridos em sua evolução, acrescentar virtudes à personalidade, adquirir novos saberes e desenvolver novas habilidades, construir uma rede de amigos, administrar adequadamente o patrimônio que construir etc.

Seria conveniente escolher um sentido para a vida, mesmo que ele venha a ser abandonado quando encontrar outro mais adequado. Viver sem um sentido para a vida é o mesmo que estar num barco à deriva em alto mar. Quando isso ocorre, a depressão pode surgir como sintoma.

Sempre abriguei a ideia de que o destino humano está associado à concepção de um sentido à vida. O que se idealiza para si interfere no destino pessoal. Cada um de nós constrói o próprio destino de acordo com os sentidos que aplica ao longo da existência. A construção dessa concepção passa para o inconsciente. A ideia de um paraíso ou de um final feliz para a vida, útil e necessária, também contribui para a criação de expectativas. Quando não alcançadas e sem a consciência de que a Vida sempre propõe algo diferente, a infelicidade estará presente.

Toda experiência humana deve ser avaliada de acordo com um sentido interno e outro externo. Devemos sempre fazer as seguintes perguntas:


O que a Vida que me ensinar com isso?
O que preciso aprender com o que se passa comigo?
O que sinto e o que devo fazer com tal emoção, visando meu próprio crescimento?


Seguir a vida sem se questionar sobre as razões de suas ocorrências, nem atentar para os sinais que são constantemente enviados, parece-me alienação, bem como o fato de perceber e não valorizar ou não interpretar seus significados.
A vida pede ou exige um sentido. Inicialmente ele é buscado como algo coletivo, adquirido pela educação, pela Religião ou pelos modelos sociais comuns. Posteriormente, com o amadurecimento do indivíduo, ele busca seu próprio sentido para a vida.

É preciso entender que o que se passa externamente conosco, guarda estreita relação com o que se passa em nosso mundo consciente e inconsciente de si mesmo como espírito eterno e construtor de seu próprio destino.

Extraído do Livro Mito Pessoal e Destino Humano – Adenáuer Novaes

segunda-feira, 11 de março de 2019

PRECE DA SERENIDADE

SENHOR DAI-ME CORAGEM PARA MUDAR O QUE EU POSSO MUDAR;

DAI-ME PACIÊNCIA PARA ACEITAR O QUE EU NÃO POSSO MUDAR;

E POR FIM, DAI-ME SABEDORIA PARA DISTINGUIR UMA SITUAÇÃO DA OUTRA.

ANTE O DIVÓRCIO - EMMANUEL

 Equilíbrio e respeito mútuo são as bases do trabalho de quantos se  propõem garantir a felicidade conjulgal, de vez que, repitamos, o lar ...