domingo, 31 de março de 2019

SENTIDO DA VIDA



Acredito que a maioria das pessoas deseja obter uma resposta confortável e consistente a respeito do sentido da vida e da própria existência. A maioria vive alienada, sem consciência de si e sem uma compreensão ampla dos processos que atravessa. Muitos preferem moldar-se a um sistema provisório, tomando-o por definitivo, enquadrando o Universo e suas leis num pequeno punhado de fenômenos. Ainda não perceberam que a Vida se auto constrói e está em constante dinamismo e transformação. Neste processo de auto construir-se, o ser humano é simultaneamente agente e objeto. Ao mesmo tempo em que estamos sujeitos às leis universais, participamos também de sua elaboração. Isso pode parecer paradoxal ou presunçoso, mas é como percebo a singularidade humana. Não somos apenas os artífices do nosso destino, mas também colaboradores da forma como o Universo age sobre nós próprios. As leis, que nos pareciam imutáveis, são constituídas de acordo com a evolução do ser humano. A submissão do ser humano às leis do Universo contrasta com a sabedoria de Deus, pois seria mais coerente com a mesma pensar num sistema que s auto cria. O sentido da vida pode ser mais bem percebido na medida em que ampliamos nosso campo de experiências, de percepção e de compreensão a respeito do deus interno.

O sentido da vida parece ser algo singular, próprio, pessoal e intransferível. Contrariando a tendência em se acreditar num sentido único, coletivo e uniforme, a vida parece revelar sentidos diversos para cada ser humano.

O sentido da vida passa pela personalidade em seu momento evolutivo. Não se pode descobrir o sentido da própria vida sem se enxergar as experiências vividas, bem como aquelas que inevitavelmente terão que ser experienciadas.

O sentido da vida se modifica a cada fase. Geralmente as ideias a este respeito começam na adolescência, quando a pessoa pretende e necessita se situar no mundo. A depender da personalidade, o sentido encontrado poderá ser determinante para todas as outras fases da vida. Na idade adulta jovem, que se inicia logo após a adolescência, vários sentidos vão sendo perseguidos, principalmente aqueles de ordem mais prática e coletiva. À medida que os processos vividos vão se tornando mais complexos e mais intensos, notadamente após os trinta anos de idade, os sentidos encontrados nas fases anteriores se afunilam, sendo condensados em poucos ou num só. A partir da meia-idade, a procura de um sentido único para a própria vida se torna uma obrigação. A certeza da morte torna obrigatório o encontro de um sentido para a vida.

O sentido da vida é vivê-la, sentindo cada experiência como algo novo, surpreendente e capaz de promover um encontro do indivíduo com sua natureza essencial. Para isso é preciso entender que o futuro é um grande mistério, porém factível de ser parcialmente construído.

A palavra esperança é normalmente utilizada no sentido de acreditar num futuro melhor ou na postura interior de confiar que tudo acabará bem. Nem sempre os resultados que se espera alcançar corroboram esse significado. Talvez devêssemos criar outra palavra que se refira a um estado de equilíbrio diante das incertezas e possibilidades do destino pessoal. Ou então, esperança deva ser entendida como o encontro de um significado para cada momento que se vive. Ter esperança é encontrar um significado para o que se faz. Mesmo que as circunstâncias sejam adversas e nada saia como esperado, entrando-se um significado e um sentido para o momento que se vive, o equilíbrio ocorre. Esperança é encontrar o sentido do passado, do presente e do futuro. É ter consciência do que está fazendo, dando-lhe um sentido e, mesmo que não atinja os objetivos pretendidos, saber que valeu a pena ter vivido aquilo. A vida pede à consciência um significado, pois é ele que permite o equilíbrio psíquico.

Sempre considerei o destino algo mutável, como se o próprio Deus contemplasse a mutabilidade em seus desígnios, sem que isso afetasse Sua suprema inteligência e sapiência. Esta consideração permite que entendamos o sentido da vida como algo flexível, como tudo no Universo. Toda rigidez contrasta com a suprema sabedoria.

O grande vazio que o ser humano enfrenta é quando constata a ausência de um sentido para sua existência, mesmo que o tenha preenchido com coisas e pessoas. As experiências da vida devem estar conectadas entre si, mesmo que em blocos, para os quais se deve encontrar um ou mais sentidos.

Certa vez, no Centro Espírita, procurou-me uma mulher muito elegante. Parecia uma pessoa bem sucedida, com gestos finos e muito bem vestida. Seu porte indicava nobreza e equilíbrio. Disse-me que tinha cerca de quarenta anos, era casada – fez questão de dizer que se considerava bem casada – com um homem muito bom e provedor. Tivera três maravilhosos filhos, todos bem encaminhados, que não lhe deram o menor trabalho na criação. Ela tinha se formado em arquitetura e era bem sucedida em sua profissão. Seu marido era jornalista e muito conhecido. Sua casa era bem frequentada e tinha numerosos familiares queridos. Enquanto falava, seus olhos iam se enchendo de lágrimas. Sem conseguir conter o choro, parou sua narrativa e, para minha surpresa, disse: tenho tudo o que quero, recebi da Vida mais do que pedi, gozo de boa saúde, mas com tudo isso, não sou feliz. Terminou sua fala me perguntando: qual a causa disso? Olhei em seus olhos e falei que a crise que estava acontecendo dentro dela era sinal de que estava acordando de um sonho e que deveria agora procurar o sentido de sua vida. Falei-lhe da espiritualidade a ser buscada e da consciência de ser imortal, como novos paradigmas e serem internalizados. Desse dia em diante passou a dedicar-se ao estudo do Espiritismo. Como ela, muita gente está descobrindo a necessidade de encontrar um sentido transcendente para a própria vida. A moderna civilização, com seus desafios de adaptação impostos as ser humano, fazendo-o desenfreadamente buscar realizações no campo material, não tem sido capaz de apresentar propostas consistentes que evitem tais crises. Mesmo considerando os avanços da filosofia, da psicologia e da religião, o ser humano ainda continua perdido entre teorias confusas e incompletas. É preciso educar o ser humano para o seu destino e para o significado oculto da vida.

O sentido da vida é descobrir quem se é e, a partir daí, auto determinar-se sem os limites da ignorância a respeito de sua própria essência. Essa tarefa deve ser executada durante várias encarnações. Em uma só, salvo para quem já se encontra mais adiantado espiritualmente, é difícil alcançar a consci6encia de quem verdadeiramente se é. A realização de suas habilidades, tendências e a descoberta dos aspectos obscuros de sua própria personalidade devem ser os grandes desafios daqueles que levam a sério sua existência.

Enquanto não se alcança a consciência de quem se é, deve-se viver a vida aplicando-lhe sentidos provisórios. São sentidos provisórios: amar verdadeiramente alguém, trabalhar honestamente para o desenvolvimento da sociedade, constituir e manter harmonicamente uma família, contribuir para a disseminação de ideais nobres na sociedade, alcançar estabilidade emocional, ter equilíbrio financeiro adequado, auxiliar entes queridos em sua evolução, acrescentar virtudes à personalidade, adquirir novos saberes e desenvolver novas habilidades, construir uma rede de amigos, administrar adequadamente o patrimônio que construir etc.

Seria conveniente escolher um sentido para a vida, mesmo que ele venha a ser abandonado quando encontrar outro mais adequado. Viver sem um sentido para a vida é o mesmo que estar num barco à deriva em alto mar. Quando isso ocorre, a depressão pode surgir como sintoma.

Sempre abriguei a ideia de que o destino humano está associado à concepção de um sentido à vida. O que se idealiza para si interfere no destino pessoal. Cada um de nós constrói o próprio destino de acordo com os sentidos que aplica ao longo da existência. A construção dessa concepção passa para o inconsciente. A ideia de um paraíso ou de um final feliz para a vida, útil e necessária, também contribui para a criação de expectativas. Quando não alcançadas e sem a consciência de que a Vida sempre propõe algo diferente, a infelicidade estará presente.

Toda experiência humana deve ser avaliada de acordo com um sentido interno e outro externo. Devemos sempre fazer as seguintes perguntas:


O que a Vida que me ensinar com isso?
O que preciso aprender com o que se passa comigo?
O que sinto e o que devo fazer com tal emoção, visando meu próprio crescimento?


Seguir a vida sem se questionar sobre as razões de suas ocorrências, nem atentar para os sinais que são constantemente enviados, parece-me alienação, bem como o fato de perceber e não valorizar ou não interpretar seus significados.
A vida pede ou exige um sentido. Inicialmente ele é buscado como algo coletivo, adquirido pela educação, pela Religião ou pelos modelos sociais comuns. Posteriormente, com o amadurecimento do indivíduo, ele busca seu próprio sentido para a vida.

É preciso entender que o que se passa externamente conosco, guarda estreita relação com o que se passa em nosso mundo consciente e inconsciente de si mesmo como espírito eterno e construtor de seu próprio destino.

Extraído do Livro Mito Pessoal e Destino Humano – Adenáuer Novaes

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