TEXTO 2
Ao conceituarmos o que é belo, surge o conceito do feio. Ao conceituarmos o que é bom, surge o conceito de mau. Por isso, o imanifesto e o manifesto são um só. O fácil e o difícil são conceitos que se complementam. O grande e o pequeno se completam. O alto e o baixo se harmonizam. O som e o silencia geram equilíbrio. Os conceitos dos opostos são complementares. Assim, o homem sábio age pelo não agir. Pratica sua doutrina sem falar. Ele apenas contempla todas as coisas sem intervir em seu fluxo. Procura não possuir nem se apegar a nada. Toda obra concluída marca sempre o início de uma outra. E pelo fato de estar desapegado, tudo flui harmoniosamente e não se esgota jamais.
Comentários de Laércio Fonseca
Neste texto, o filósofo Lao Tzu nos aponta como a visão chinesa da dualidade é muito diferente da ocidental. Ele nos mostra que tudo não passa de conceitos abstratos que o homem tem sobre as questões do mundo. Dizer que uma coisa é bela e outra é feia, uma é boa e a outra má, dizer que algo é divino e outro demoníaco são apenas aspectos da visão humana sobre natureza destas coisas. Para Lao Tzu, essa maneira dual de observação provém do estado de ignorância em que se encontra a humanidade. Um ser iluminado não vive num universo de distinções e todas as condições lhe são iguais. Tudo não passa de aspectos manifestos da mesma realidade última que consiste na unidade. Para o sábio, tudo é esta unidade e não existe os opostos. Aquilo que, para os homens, são aparentemente coisas adversas, são mostradas por Lao Tzu como sendo, na verdade, complementares. São energias que se harmonizam para gerar tudo que existe, assim como os prótons e elétrons. Ainda neste texto, Lao Tzu nos conta que o verdadeiro sábio taoista age pelo princípio conhecido na China por Wu Wey, que quer dizer “Agir pelo não agir” Como o sábio não vê distinções nas coisas do mundo, não precisa lutar para fazer com que uma das partes se manifeste com mais intensidade.
Extraído do livro Tão Te Ching (Tradução e Comentários de Laércio Fonseca)
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