domingo, 14 de janeiro de 2018

Chapeuzinho Vermelho e o Encontro com a Sombra


Todos nós conhecemos a estória da menininha que levava doces para a sua vovozinha, Chapeuzinho Vermelho. Mas a maioria de nós nunca atentou aos profundos ensinamentos que essa ingênua estória carrega.

Chapeuzinho somos nós. Assim como ela, muitas vezes tentamos nos desviar do caminho, buscando atalhos ou mesmo nos distraindo com a paisagem e deixando de prestar a devida atenção à sombra que nos espreita. No entanto, como ensina Joanna de Angelis, “a sombra que predomina empana a capacidade de compreender e de definir rumos, retendo a criatura na comodidade dos interesses próximos que dizem respeito ao ego, à segurança pessoal e ao vicioso encurralamento nos limites da proteção arquitetada e construída”1.

Mas uma coisa é certa: teremos que nos encontrar com algo maior e mais sábio que nós, simbolizado no conto pela vovozinha. Como será esse encontro? Dependerá das escolhas que façamos no decorrer do caminho, que com certeza reserva algumas armadilhas.

Um olhar analítico da estória nos revela que, na condição de chapeuzinho, temos um trabalho a realizar: precisamos encontrar e alimentar uma parte em nós que representa a sabedoria (Self). Só que esse processo não seria completo se não confrontássemos com a sombra (o lobo), que na verdade não é necessariamente negativa, mas a sua atuação dependerá da nossa habilidade de reconhecê-la, principalmente porque ele, o lobo, tem o poder de nos devorar se não admitirmos a sua existência.

Sem esse encontro/confronto com a sombra parte da energia retida no inconsciente não seria disponibilizada para a renovação da vida, ou seja, a sombra reserva em si mesma energia disponível para a realização do objetivo existencial, e esse é o principal motivo para que busquemos identificá-la. Isso nos dá uma certeza, Chapeuzinho precisava encontrar com o lobo. O problema é que, assim como nós, ela é enganada por ele; somos muitas vezes seduzidos por uma força interna que, disfarçada em boas intenções, nos leva a atitudes e comportamentos que normalmente reprovaríamos, sem nos darmos conta que estamos sendo levados a agir na vida pela força da sombra.

Nesse ponto tomamos caminhos que nos distanciam de nós mesmos e nos deixamos enganar por argumentos que criamos para nos convencer, nos distraindo com o que não é realmente importante.

Resultado: sofremos por isso e queremos colher flores em terremos áridos do nosso ser, e para piorar nos afastamos do verdadeiro objetivo da nossa vida.

O que acontece? Quando ela (nós) chega à casa da vovozinha não a encontra, mas sim o lobo disfarçado, a sombra disfarçada em self, isso acontece porque tanto a vovozinha quanto o lobo são partes de nós tornando-se familiares. Na prática isso significa que facilmente nos enganamos com comportamentos sombrios que, por não cuidarmos, acreditamos que são comportamentos edificantes.

 Estamos tão distantes de nós que não somos capazes de reconhecer o nosso melhor, o nosso verdadeiro potencial. E ficamos satisfeitos com uma grotesca caricatura, um rascunho mal feito de nós.

Encontrar o lobo é acertar as contas com nós mesmos, e não podemos evitar isso, pois não adianta pegarmos o caminho errado e nos distrair achando que passará; uma hora nos depararemos com o mostro criado por nós e teremos que confrontá-lo, e muito provavelmente seremos atacados por ele. É nesse momento que, por exemplo, adoecemos, deprimimos e nos encontramos no vazio existencial.

Só a coragem para vencer (caçador) será capaz de nos libertar do aprisionamento devorador da sombra e, com isso, renascermos para uma nova possibilidade de vida, afinal, “o sentido psicológico da reencarnação é conseguir-se a transformação moral do ser e a liberação de todos os seus conteúdos ocultos...”2
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 Isis Sinoti

1Joanna de Ângelis – Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, cap. 31

2 Joanna de Ângelis – Psicologia da Gratidão, cap. 2

http://www.correioespirita.org.br/categorias/filosofia-e-espiritismo-correio-espirita/1755-chapeuzinho-vermelho-e-o-encontro-com-a-sombra

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