TERAPIA DE APOIO
Diante de qualquer distúrbio orgânico, psicológico, mental ou emocional, se faz necessário um tratamento com terapêutica especializada, levando-se em consideração que a origem de todo infortúnio advém do Espírito, visto que nele se encontra o gérmen de qualquer enfermidade.
Este momento é imprescindível para o indivíduo compreender o fundamento da dor que lhe atormenta. Portanto, para libertar-se da bagagem emocional que tem afligido, é necessário encará-la. Isso não significa reviver e remoer velhas mágoas e feridas do passado e trazer à tona como uma avalanche de revés que irá amargurá-lo por dias ou semanas, torturando-o. Não! Irá fazer um mergulho interior para identificar as emoções que ficaram travadas, os desafios não superados pela dor, as alegrias sufocadas, o coração fragmentado e amofinado a ser recomposto.
É preciso compreender que existe outra dimensão da dor não identificada e que essa vem de um passado transitório. O indivíduo não tem lembranças conscientes sobre tal passado e por isto diz que é algo muito pessoal o que sente e traz consigo. Também é necessário admitir que a dor é somatizada a situações vivenciais em relacionamentos que tem rotulado como os únicos agentes dessa dor.
Para tal, irá identificar cada período da vida que traz cargas de emoções negativas e se encontram adormecidas no inconsciente desde a infância. Criará um mecanismo de estrutura de apoio, utilizando um bloco para diagnose, descrevendo minuciosamente cada ciclo de emoções que realmente marcou cada fase de sua vida. Os passos a seguir o ajudarão nesta identificação.
- Relembre os relacionamentos complexos separadamente. Os diálogos, os sentimentos, as sensações que ficaram guardadas e as que foram externadas, as barreiras enfrentadas, a rejeição, a raiva, a estagnação, os atritos, as proibições, as justificativas, os embaraços, os medos, as perdas, os constrangimentos, enfim, as angústias dos vínculos afetivos.
- Observe agora individualmente cada fase, calmamente e com especial atenção. Não tenha pressa. Não queira elaborar a diagnose de toda memória emocional de uma só vez, banalizando todo sentimento. Perceberá que, ao enfrentar tal emoção, houve uma ação psicossomática onde algum órgão funcionou como válvula de escape, recebendo toda descarga energética não suportada na mente. Na realidade, as emoções provocam transformações no organismo, inibindo ou liberando a produção de substâncias como adrenalina, cortisol e serotonina.
- Inicie agora o mergulho interior. Para isso, é preciso tomar consciência da sua respiração e silenciar a mente antes de fazer a rememoração.
- Respire de forma estável e salutar, aliando o controle da respiração à inserção da meditação, conforme as etapas a seguir:
* Acomode-se em posição confortável em uma poltrona, mantendo a coluna ereta de maneira que se sinta tranquilo e aprazível.
* Com os olhos fechados, observe sua respiração e conecte-se com a movimentação do ar que está naturalmente aspirando e expirando.
* Conforme for percebendo mais e mais a respiração, vá se desligando do ambiente externo, de qualquer som ou pequeno movimento que possa haver, como também dos pensamentos que surgem à mente.
* Em estado de relaxamento, aspire o ar suavemente pelas narinas e leve-o até a região baixa dos pulmões, expandindo o abdômen à medida que o ar vai entrando.
* Conserve o ar retido por alguns segundos, somente para efetuar uma pequena pausa respiratória. Em seguida, libere lentamente o ar pela boca entreaberta, até esgotar todo o ar dos pulmões. Faça outra pequena pausa no movimento da respiração, mantendo-os vazios por alguns segundos antes de repetir à dinâmica.
* Pratique pelo tempo que sentir ser conveniente à sua harmonia, conservando em ritmo estável e sempre respeitando seu limite. Cinco minutos, dez minutos, quinze minutos, trinta minutos? O tempo que sentir bem-estar, segurança e conforto.
* Praticar diariamente a respiração diafragmática por alguns minutos, traz grandes benefícios: reduzindo o estresse e as tensões, como também revitaliza a energia e fortalece a resistência mantendo a mente mais tranquila. Desta forma desenvolverá a consciência essencial para a meditação.
* Após iniciar o processo aspirar e expirar por completo por três vezes, permaneça na mesma posição, de forma confortável, absoluto e consciente, e inicie seu mergulho interior, aspirando o ar lentamente e examinando nos recantos das lembranças desde quando e de onde vem esta dor?
* Quem eram as pessoas vinculadas ao relacionamento desditoso no seu passado? Qual foi exatamente o contexto em que se deu a situação desagradável? Em que período isso ocorreu, seja na infância, na adolescência, na vida adulta ou até na atualidade? Quais eram os sentimentos que o envolviam em tal ocasião?
* Identifique o sentimento que lhe aflora, dê um nome a esta dor: mágoa, ressentimento, medo, raiva, revolta, rejeição? Siga em frente e não se envergonhe do sentimento que acabou de reconhecer. É natural se surpreender ao identifica exatamente o que se sente. Comumente, o indivíduo carrega uma bagagem de dor emocional por longos anos ou até mesmo por uma vida toda e não consegue se libertar por sequer saber o que sente somente a dor. Por isso, anote tudo, até esgotar as ações e emoções e sentir-se desabafado.
* Sirva-se do Bloco do Mecanismo de Estrutura de Apoio para efetuar a diagnose sobre o mesmo contexto conflituoso, mas por outro aspecto: colocando-se no lugar da outra pessoa. Descreva no bloco o que estaria pensando no lugar dela no momento do conflito? Qual o real motivo que a teria levado a confrontá-lo? Como estaria se sentindo? Quais as emoções externadas e as retidas por ela também? Quais os constrangimentos sentidos por ela, medos, raivas, justificativas, perdas, angústias? Anote até sentir-se aliviado e extenuar todas as emoções.
- Dispõe agora de duas interpretações completas, anotadas no seu Bloco do Mecanismo de Estrutura de Apoio. Necessitará de mais uma interpretação, utilizando uma terceira visão. Para essa, porém, será necessário que se desprenda das duas perspectivas anteriores e das emoções a que elas o levaram.
* Aplique o mesmo mecanismo, porém, agora, simplesmente narrando uma história, olhando-a de fora do contexto, referindo-se a duas pessoas desconhecidas. Identifique-as como duas personagens, com nomes diferentes da vida real. Narre o contexto de ambas as partes, sob as suas perspectivas e ao sabor das emoções de quem conta uma história.
* Concluída mais essa etapa, desconecte-se do conflito em referência e retorne ao ciclo de respiração diafragmática até sentir-se relaxado, com a mente serena, sem pensar nas emoções volvidas, ou em qualquer lembrança desagradável.
Seu olhar diante do fato já não lhe fere mais a alma, pois conseguiu penetrar nos diferentes lados, nas causas e nas emoções geradas pelo mesmo fato. Dessa forma, na segunda etapa, ao colocar-se no lugar do outro, identificando outras emoções até então não sentidas. Quando estiver na terceira etapa, já conseguiu desprender-se do ponto de vista que o manteve paralisado e, com certa leveza e, até talvez, certo humor, narrar o ocorrido.
Nise da Silveira
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