quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A FELICIDADE NA SELFIE X A FELICIDADE DA REALIDADE - Rossandor Klinjey



Lembra-se daquela história que eu contei do casal no restaurante japonês que interrompeu uma briga, tirou uma selfie sorrindo e depois voltou a brigar? (ver cap. 3) Pois é. Isso evoca uma reflexão muito necessária hoje, pois envolve a construção social de uma falsa noção de felicidade.

Por meio da selfie, que é uma nova possibilidade de autor representação gerada pelos smartphones, ao proporcionar à pessoa a chance de tirar fotos de si mesma sem necessitar da ajuda e, consequentemente, do olhar de terceiros, o indivíduo é capaz de criar um personagem que vive uma realidade alternativa. Afinal, ninguém, vai saber se aquele sorriso naquele ambiente bonito realmente reflete um estado interior ou se é apenas uma criação mental, teatral mesmo, a depender das reais circunstâncias que se apresentam e que não estão ao alcance de quem vê aquela fotografia.

No caso desse casal, ao mens publicamente, ele era feliz. A pessoa que está solitária e desiludida com a própria capacidade de encontrar um bom parceiro para compartilhar a vida não terá acesso aos bastidores da história, que trazem a realidade do conflito natural e inerente em determinados momentos da vida e da própria convivência a dois. Ela apenas verá a fotografia de um momento (forjado) de felicidade. E com isso poderá facilmente chegar à triste conclusão de que tem uma vida miserável.

As mídias sociais têm se mostrado um terreno fértil para a comparação social, especialmente ao que as ciências do comportamento humano nomeiam de “comparação social ascendente.”.
Nesse tipo de comparação, as pessoas sentem que a vida dos outros são melhores do que as suas. Esse sentimento é reforçado pelo simples fato de as postagens nas redes sociais tenderem a demonstrar os momentos positivos e felizes às pessoas, como frequência bem maior que os momentos difíceis pelos quais todos passamos.

Dificilmente seu cunhado irá postar a louça do fim de semana por lavar e o tédio dos programas dominicais, mas o churrasco com os amigos serão motivos de stories e vários selfies.
Essa enxurrada de fotos e postagens de vidas felizes, desfilando em nossas timelines, leva-nos, a um sentimento de impotência e de vida sem graça. Nossa vida fica monótona e pobre, em todos os sentidos, comparando-se com as demais postagens nas redes sociais.

Essa sensação é mais cruel naquelas pessoas que se comparam com mais frequência, pois são mais suscetíveis a sofrer os efeitos provocados por publicações de excessiva felicidade, o que causa uma onde de inveja, gerando mais angústia, pois você começa a invejar pessoas que você gosta, e esse sentimento leva culpa ou a relações falsas a comentários sarcásticos.

Ao se apegar aos modelos que o mundo considera como os mais adequados para se encontrar a felicidade, você apenas está condicionando este estado de espírito a fórmulas que podem até ser consagradas, mas que, na verdade, não correspondem a uma experiência verdadeira.

Outro fenômeno alimentado pelas mídias sociais é o Fear of missing out (FoMO ou medo de perder, de estar fora, numa tradução livre). É uma falsa sensação de que as pessoas estão em experiências incríveis e você não está participando delas. E para ter uma “certeza” de que você não irá ficar de fora, você aumenta o seu desejo de estar conectado nas redes sociais para ver o que os outros estão fazendo o tempo todo. Desse modo podemos também dizer que FoMO é um medo d arrependimento. Esse medo acaba levando a uma excessiva preocupação de perder eventos sociais, informações dentre outras coisas.

Não é de se espantar, portanto, que as pessoas mais propensas a verificar compulsivamente as mídias sociais, seja dirigindo o carro, enquanto na rua, são as que experimentam níveis elevados de Fear of missing out FoMO, medo de perder ou medo de ficar de fora.

Conectar-se a quem está próximo e de forma leve e simples tem se revelado algo muito salutar na vida das pessoas. Desconectar-se do virtual para conectar-se ao real.

Atualmente, muitas pesquisas na área neurológica e do comportamento humano, mostram, por exemplo, que uma noite em uma mesa tomando café e comendo tapioca, na companhia de amigos que você gosta muito, gera uma compensação psicológica e emocional maior do que comprar um carro novo.

Sabe, por quê? Porque nunca são as coisas que nos deixam mais ou menos felizes. Sempre são pessoas. Quando ouvimos falar em mágoa, tem a ver com pessoas. O mesmo se dá com o perdão e o ressentimento. No entanto, a sociedade precisa nos dizer que a felicidade corresponde àquilo que nós construímos ou podemos comprar.

Um dos motivos da depressão coletiva na Brasil é que deixamos de ir ao shopping Center por conta da crise econômica que assolou o nosso país. Como não está dando nem para pagar a feira, comprar roupa não rola! Ver filme, comprar pipocas, idem. Nesse caso, precisamos ficar em casa mesmo.
Tenho observado, porém, que as pessoas estão se apoiando mais. Não estou afirmando que precisamos ficar em crise, longe disso! Apenas estou dizendo que essas crises nos obrigam a lançar o olhar sobre aquilo que é essencial. Já que no momento de crise financeira não podemos nos enganar e viver num frenesi de consumo para tampar nossas faltas, só nos resta ir à busca do que realmente nos preenche que são as pessoas e o modo como nos relacionamos com elas.

Por isso, cada vez mais fica evidente que os relacionamentos afetivos (amigos e parentes) são que temos de mais valioso. Eles são um elemento crucial na proteção da nossa saúde mental.
O apoio emocional é apenas uma das muitas contribuições que as relações afetivas (amigos e familiares) têm em nossa vida, e são promotoras de saúde. Mas, em se tratando de nossos dias, as pessoas estão com poucos ou nenhum amigo e distantes de seus parentes.

Pode parecer contraditório que isso ocorra em plana época das redes sociais e conectividade digital. Mas, na vida humana, apesar dos muitos seguidores em nossas redes sociais, eles contam muito pouco ou quase nada, quando se trata d sua saúde e felicidade.

Conta mesmo àqueles amigos e parentes que não são virtuais, que não estão apenas dando bom dia no grupo de WhatsApp. Contam aqueles que têm abraçam e te levam um mimo, ouvem suas angústias e contam as deles. Esses sim são os que provocam um profundo impacto positivo em nossa felicidade, bem como nós provocamos na deles.

Portanto, faça o seguinte, troque cinquenta amigos virtuais por um amigo real. Troque o grupo de WhatsApp da família pela visita semanal a um parente. Troque duzentas visualizações de pessoas felizes em selfies pela visão do sorriso de alguém que te quer bem e recebe sua visita, e você verá como sua vida terá mais felicidade e mais sentido.

Rossandro Klinjey – cap. 11 – Livro Eu escolho ser Feliz




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