“Por Que não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse eu faço”. Paulo de Tarso (Romanos, 7:19)
Uma pergunta jamais deverá deixar de ser o centro de nossas cogitações nas vivências espíritas: em que estou melhorando?
Ter noções claras sobre as conquistas interiores, mesmo que pouco expressivas, e valoroso núcleo mental de motivação para a continuidade da empreitada da renovação. Por sua vez, não dar valor aos passos amealhados e permitir a expansão do sentimento de impotência e menosprezo aos esforços que já temos encetado.
Como seria justo, os irmãos na carne poderiam indagar: como adquirir então essa noção clara sobre a posição espiritual de cada um, considerando o tamponamento do cérebro físico?
A única postura que nos assegurará a mínima certeza de que algo estamos realizando em favor de nossa ascensão que idealizamos. Os obstáculos serão incessantes até o fim da existência, não nos competindo nutrir expectativas com facilidades, mas sim a coragem e o otimismo indispensáveis para vencer um desafio após o outro.
Que a esperança não desfaleça diante desse prognóstico. Nossas conquistas não podem ser edificadas na calmaria. Nossas virtudes não floresceram sem os golpes da dor que dilacera arestas e poda aos espinhos da perfeição.
Nossa palavra de ordem é recomeçar – uma palavra inspiradora.
Quantas vezes se fizerem necessárias, a nossa grande e única virtude nos áridos campos do aprimoramento íntimo é a capacidade de resistir aos apelos para a queda, jamais desistindo do ideal de libertação que acalentamos mesmo que desmotivados, aprendendo mesmo que sem objetivos definidos.
A própria reencarnação é o mecanismo divino do recomeço, da retomada.
Justo, portanto, que abracemos amorosamente os compromissos abandonados de outros tempos e aplainemos nossos caminhos tortuosos.
Em meio ao lodaçal do desânimo nasce o lírio da personalidade tenra que estamos paulatinamente cultivando. Sob o peso cruel da angústia, estamos construindo a condição imunizadora do poder mental.
Desde que não desistamos, sempre haverá uma chance para a vitória.
Prossigamos sem expectativas de angelitude que não temos como alcançar por agora.
Não ser o que gostaríamos é o mais alto preço atribuído àquele que optou pelos descaminhos do egoísmo, essa também é a maior tormenta para todos os que almejam a melhoria de si próprio. Nisso resido o drama anterior narrado por Paulo de Tarso: “Por que não faço o que quero, mas o mal que não quero esse eu faço”.
Não queremos ser mais quem fomos, mas ainda não somos quem queremos ser. Então quem somos? Isso gera uma etapa definida por profunda inaceitação com tudo na vida. Corpo, profissão, relações, afetos e mesmo os sucessos do caminho são dramaticamente abalados pela diminuição da alegria e do encanto face a essas “provas de ajustamento”.
Todavia, a lei estabelece a morte do pecado e não do pecador. Para todos é abundante a misericórdia – lei universal da piedade paternal – que assegura-nos: o amor cobre multidão de pecados.
Apesar desse ditame celeste, a dor-evolução não tem sido suportada por muitos e agravada por outros, levando-a a quadros de graves enfermidades morais e desamor a si mesmo.
Até a reforma íntima em muitos casos devido às más interpretações costumeiras, tem sido um “bordão” de autopunição e martírio penitencial.
Nesse torvelinho de conceitos e dramas psicológicos, Ermance Dufaux surge com uma palavra de conforto e discernimento aos nossos corações. Sua iniciativa nessa obra reveste-se de valorosa inspiração que trará estímulo, pacificação e luz a muitos corações encarcerados nas árduas provas do crescimento íntimo.
Analisando seus textos objetivos e lúcidos, podemos antever a utilidade da iniciativa de enviá-los a Terra. Entretanto, a despeito de sua oferenda, ela própria é primeira a declinar de sues méritos, solicitando-nos destacar que estas páginas são frutos de um conjunto de esforços de almas que laboram pela implantação do programa de valores humanos para as sociedades espíritas, cujo responsável é o nosso benfeitor Bezerra de Menezes que cumpre diretrizes superiores do Espírito Verdade.
Ressalte-se que, os casos aqui narrados vividos no Hospital Esperança, onde mourejamos juntos no serviço do bem, são indicativas preciosas colhidas diretamente de almas que viveram os dramas descritos. Assim expressamos em respeito a todos eles que permitiram de bom grado a narrativa de suas quedas ou experiência em favor do bem alheio.
Que a mensagem aqui contida seja uma palavra de recomeço e uma inspiração para a continuidade da luta íntima pela vitória do homem renovado no Cristo de Deus.
É lembrado mais uma vez o baluarte da mensagem cristã livre, destacamos que, os percalços não o cercearam em direção aos cimos. Apesar de seus conflitos ele, imbativelmente, declarou: “(...) Tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazeis veredas direitas para os vossos pés (...)”. “E não nos cansemos de fazer o bem, porque há seu tempo ceifaremos se não houvermos desfalecido”.
Sejamos fieis e confiantes nos pequenos esforços de ascensão que temos conseguido realizar.
Abandonemos a aflição e a ansiedade relativamente aos que gostaríamos de ser, porque somente amando o que somos encontraremos força para prosseguir. O mesmo Paulo de Tarso que declarou na angústia de suas lutas: (...) o mal que não quero esse eu faço, mais adiante, calejado pelas refregas educativas compreendeu a importância que tinha para os ofícios do bem ao afirmar: “(...) Não sou digno de ser chamado de apóstolo (...) mas pela graça de Deus sou o que sou”.
Por nossa vez, estejamos convictos de que não somos eleitos especiais para a obra a que nos entregamos, contudo, já nos encontramos dispostos a esquecermos do mal e a construir o bem que pudermos. Existe um melhor recomeço do que este?
Cícero Pereira
Belo Horizonte MG, 9 de março de 2003
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